Além de não ser chauvinista, simpatizo com Julio Velázquez. Ao contrário de Lopetegui, que recorria a duas ou três palavras de português, ao cabo de ano e meio no Porto, o treinador do Belenenses diz “miércoles” e logo corrige para quarta-feira, um sinal de respeito pelo país onde trabalha. E exibe, ainda, um sorriso, uma alegria natural que aplica no campo, quando deixa o “autocarro” na garagem e monta uma estratégia ousadamente atacante ou surpreende os adversários com mudanças táticas que têm trazido alguns bons resultados à equipa de Belém – duas vitórias fora para a Liga, por exemplo.
A questão é a velha sentença de sempre: o futebol chuta para longe, depressa e com desprezo, os aprendizes de feiticeiro que julgam ter descoberto a poção da vitória certa, recorrendo à estúpida regra que manda jogar o jogo pelo jogo para que todos sejam felizes.
Sentei-me a ver o filme de sexta-feira, no Restelo, antes de ele começar, mal conheci a formação dos azuis. Tonel, o melhor central do plantel, outra vez no banco? Rúben Pinto, um médio, no centro da defesa? Fábio Nunes, um extremo, a lateral? Abel Aguilar titular, apesar de estar parado há meses? Três avançados, mais Carlos Martins, na frente? Das duas uma: ou o Benfica entrava em paragem cerebral e abdicava da sua avalancha atacante dos últimos tempos ou a coisa iria correr muito mal. E correu.
Mas não desanimo e continuo fã da filosofia e das obras deste Velázquez, que ou se cuida ou nunca pintará, como o homónimo Diego, quadros que fiquem na história. Que Gary Neville se suicide assim – tu é que não, Julio, filho.
Canto direto, Record, 8FEV16
Um Velázquez em Belém
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