Alexandre Pais

Um silêncio atroz

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Ao vermos as imagens de destruição e morte resultantes de atentados, incêndios ou terramotos sentimo-nos – caso sejamos pessoas normais – em estado de prostração. É mais duro para quem sofre, no corpo e na alma, o desaparecimento do que era até então o seu mundo, mas aos telespectadores é dada a sua parte de dor e desolação. A emoção, e quanto mais forte melhor, é o “filet mignon” dos telejornais – nem quereríamos que assim não fosse.
Digo-o por mim: o sismo de quarta-feira, em Itália, afetou-me mais do que os incêndios provocados por bandidos ou as explosões de bombas ativadas por terroristas. Sendo qualquer desses crimes um horror, é a loucura dos homens que os gera, não a Natureza. Podiam ser evitados se fôssemos menos frustrados e mais bem formados, menos intolerantes e mais irmãos – uns dos outros e do Planeta.
Perante a tragédia de Perúgia e a retirada dos escombros de dezenas de corpos de crianças, os meus olhos não se viram para a barbárie mas para Deus misericordioso. E cito uma pequena gafe desta semana de José Rodrigues dos Santos – “temos as imagens mas como podemos ouvir não há som” – para sublinhar este silêncio atroz que se recebe por resposta à revolta pelo cruel sacrifício de tantos inocentes.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 27AGO16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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