Alexandre Pais

Um mistério chamado Solskjaer

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Durante muitos anos, o Sporting foi dominado por um grupo de ‘notáveis’ que circulava livremente por Alvalade a dar palpites e a dificultar a vida a quem competia o dever de trabalhar. O triste consulado de Godinho Lopes terá sido o último a permitir a influência dessa tralha, já que, pelo meio do que fez de errado, Bruno de Carvalho é credor do clube por ter limpo também o átrio de entrada.

Recordei tal batalhão de inutilidades ao ler as críticas ao derradeiro desempenho do Manchester United, do seu treinador e dos jogadores, oriundas de antigas figuras dos ‘red devils’, que se distinguem hoje não pela continuidade de uma carreira de sucesso ligada ao futebol, mas apenas pelo acesso aos meios de comunicação.

O ambiente gerado pelos sucessivos tropeções do MU é-lhes favorável, já que tudo parece à deriva em Old Trafford, como se viu com os adeptos que se irritaram com o abraço de Diogo Dalot a Rúben Dias ou com o infeliz Eric Bailly, que veio para as redes sociais brincar com o seu auto-golo, que logo aos sete minutos abriu o caminho para o passeio triunfal do City.

Não falta por onde escolher. O mítico Paul Scholes, sempre dos mais ativos – antes, tinha dito que Pogba irá continuar a fazer “coisas estúpidas” – atacou o 3x5x2 utilizado por Solskjaer nos dois últimos confrontos porque “não se adapta aos jogadores”, e considerou que o lateral Wan-Bissaka defende bem mas “é inútil com a bola”. Outro ‘inevitável’, Gary Neville, acusou a equipa de falta de “vontade”, explicando que “é preciso ter ‘ganas’ enquanto se tem a posse da bola e quando se não tem”. Já Paul Ince optou por lembrar a desastrosa passagem de Solskjaer pelo Cardiff e a sua ‘fuga’ para o Molde. “O teu treinador não pode ser esse”, acrescentou o ex-internacional inglês.

O irlandês Roy Keane, então, foi taxativo: “São jogadores internacionais! Não consigo entender esta defesa… desisto!” Mas agressivo, mesmo, foi Graeme Souness – referência do Liverpool e antigo treinador do Benfica – que escolheu como alvo os “jogadores que não fazem as coisas mais óbvias”, indicando concretamente Bruno Fernandes, por não ter pressionado Cancelo e impedido o cruzamento tenso que foi meio golo no auto-golo de Bailly – o azarado que havia sido o melhor em campo em Bérgamo, no embate contra a Atalanta. Caprichos do futebol.

Todos estes ‘desabafos’ sobre a pobre produção de jogo do United parecem não perturbar Solskjaer e os acionistas do clube. O norueguês anda aos papéis, sem saber que rumo seguir. E os donos do dinheiro permitem que uma antiga glória da casa continue a viver do passado, sem conseguir aproveitar um plantel que dava para dois onzes de grande qualidade e quase idênticos. As imagens do dérbi de Manchester, com os jogadores do MU, por um lado a queimarem energias a correr atrás da bola, sem qualquer capacidade de pressão e vontade de a recuperar, e por outro a perderem-na com facilidade ao primeiro passe, como se as pernas lhes tremessem, serão difíceis de esquecer.

O que fará com que os irmãos Avram e Joel Glazer, homens de negócios duros de roer, manifestem tanto desamor pelo seu próprio investimento? Existe, evidentemente, uma explicação – ou várias – fora do alcance dos ingénuos mortais que somos. A mim, o que de facto me chateia é que Cristiano se tenha visto livre de um pesadelo para se meter noutro. Por este andar, não tarda que a tralha jubilada de Manchester e arredores se volte contra ele…

Uma enorme chatice a paulada que o Benfica deu no Sp. Braga. Agora que estava a tenda montada com a suposta caída em desgraça de Jorge Jesus, de quem até os jogadores se afastavam, acontece isto. Lá se foi o tema da semana!

Parágrafo final para o Belenenses, o verdadeiro, o de Belém, que mudou de equipa técnica, venceu o Operário e subiu ao segundo lugar na sua série do Campeonato de Portugal. O caminho faz-se caminhando.

Outra vez segunda-feira, Record, 8nov21 (versão integral)

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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