Alexandre Pais

Um benfiquista na história do clássico

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Já vejo futebol enquanto faço outras coisas para me animar quando a toada vai secante, como ontem sucedeu. Também Hugo Miguel, esse por dever de ofício, se distribuiu lindamente por duas tarefas: acompanhar os lances e fazer uma gestão equitativa dos cartões para que ninguém depois lhe chague o juízo. Os que reclamaram, sobre o intervalo, pela não exibição do segundo “amarelo” a Bruno Fernandes não passam de uns desequilibrados que não se importavam de aplicar a lei e estragar o jogo. Burros todos os dias.
Mesmo entretido a tirar a louça da máquina, a jogar Angry Birds, a acalmar a minha filha – irritada com o Diaby e a perguntar pelo Raphinha – e a seguir os ódios de estimação no Twitter, cheguei ao fim da partida com uma alegria idêntica à de Mathieu a receber o troféu de homem do jogo, uma manifestação recorrente de um estou-me nas tintas tão chocante que Pinto da Costa, homem dado ao amor, há muito resolveu o dilema por parte do FC Porto: os dragões não aceitam a placa de plástico e ponto final na história.
Não, a tristeza do escriba – relativa porque o Mundo vai pesado – pouco tinha a ver com o resultado desportivo, que me era indiferente, antes com a falta de tento nos palpites do TotoRecord – na edição de sexta-feira o leitor verá. E tudo porque há dias, preparava-me eu para apostar 1-1, como faço quando o “grande” que joga em casa não é favorito, fui almoçar com dois amigos, que são sportinguistas e mais: especialistas do tipo suco da barbatana no que ao futebol dos leões respeita. Azar dos Távoras.
Que não, que havia poucas hipóteses de um empate, que o FC Porto estava demasiado forte e o Sporting com muitas limitações, e o Keizer isto e aquilo. E pronto, lá alterei o prognóstico para 1-2, o que acabou por me fazer perder a liderança isolada do painel e ficar com duas sumidades à perna. É bem feita para mim, que raramente penso pela cabeça alheia e que assim me espalhei ao comprido. O único aspeto positivo é que foi um benfiquista a pagar o almoço.
Há, sim, houve o jogo e tal. Aí, confesso que mal me deparo com a cara de sofrimento do sérvio Petrovic me vêm à lembrança os partisans de Tito, remetidos ao frio e à fome nos túneis dos Balcãs para derrotarem os nazis e seus aliados. Talvez seja por ver o futebol desde o tempo das Salésias, como dizia o peru cinzento, mas os leitores sportinguistas que me perdoem duas perguntinhas: uma equipa que tem de recorrer a um Petrovic – com o devido respeito, claro – pode ser candidata ao título? Este empate não terá sido, dadas as circunstâncias, um excelente resultado? Não me despeço sem responder: não pode e foi.
Contracrónica, Record, 13jan19

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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