Einstein dizia que “há uma força motriz mais poderosa que a electricidade e a energia atómica: a vontade”. Prefiro a simplicidade de Witness Lee: “Se houver uma vontade, haverá um caminho”
Meio século de pés ao caminho
Cinquenta anos e 18 dias decorreram entre a data em que foi publicado o meu primeiro texto, no desaparecido Mundo Desportivo, e a desta página, que peço desculpa por dedicar a mim próprio, violando o princípio, errado, de que os jornalistas não são notícia. Este não é, muitos não são, mas alguns, poucos é certo, merecem que os consideremos protagonistas. Não sendo o meu caso, não resisto a assinalar este meio século de percurso, longevidade rara num país que não é para velhos e onde os senadores, de qualquer profissão, são considerados inúteis elementos decorativos.
Participei, em 1964, em Espanha, nos Jogos da FISEC – uma competição que reunia as selecções de juniores de diversas modalidades – integrado na selecção nacional de voleibol, e fui também porta-bandeira da delegação portuguesa, por indicação do seleccionador Nuno Barros. Antes, em Lisboa, tinha proposto ao jornalista José Valente, chefe de redacção do trissemanário desportivo – e que seria miseravelmente despedido seis meses mais tarde, mas disso trataremos noutro dia – fazer, a título gracioso, a reportagem do torneio.
Para o bem ou para o mal, nasceu aí uma vocação. Não foi só o facto de escrever num jornal mas também a entrada, carregada de simbolismo, no lendário edifício do Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade, onde funcionava a redacção do MD. Recordo-me que depois de entregar o manuscrito e passar a porta da rua, me senti inebriado: sim, eu era capaz. E logo meti pés ao caminho.
Parece que foi ontem, Sábado, 28AGO14
Reportagem da página 2 do Mundo Desportivo de 10 de Agosto de 1964
Errar, cair e recomeçar
Nos tempos que atravessamos, quem não está na televisão não existe. É esse fenómeno de voyeurismo doentio que inventa os famosos ou celebridades, reis do nada que hoje entretêm as audiências como antes os gladiadores excitavam a turba nos circos romanos. Sou um homem do papel, gosto da discrição que ele consente, gosto menos da difusão da imagem proporcionada pelas edições online, fujo, podendo, da zona de desconforto que a televisão constituiu para os que não ama. Talvez isso me tenha sido permitido porque o trabalho e a determinação compensaram o espírito individualista.
Trabalhei e aprendi o que pude com mitos do jornalismo como Luís de Sttau Monteiro ou Fernando Assis Pacheco, Neves de Sousa ou Carlos Veiga Pereira, Artur Portela ou João Gomes. Fui companheiro de redacção de jornalistas enormes – que não cito por serem muitos. Fiz rádio, fundei jornais e revistas, dirigi e fui dirigido, persegui e fui perseguido, meti-me na política e espalhei-me. Formei equipas, descobri talentos, dei oportunidades a quem nada valia e fechei a porta a quem não devia. Fui primeiro visionário e só depois gestor, errei demasiadas vezes, corrigi algumas e convivo com o desespero do não retorno de situações em que fui estúpido e mesquinho.
Caí e recomecei, voltei a cair e de novo me levantei. Mas eis-me aqui hoje, vivo, activo – e, especialmente, ainda inteiro.
Observador, Sábado, 28AGO14
Nota – Na edição impressa da Sábado, este meu último artigo poderia ter sido publicado com um erro grave, por minha exclusiva culpa, já que reclamo quando me mexem nos textos. Assim, em vez de “discrição” (de discreto, discretione) escrevi “descrição” (de descrever, descriptione). Mão amiga e profissional perdoou-me a arrogância e fez uma boa ação: corrigiu-me. Estou-lhe grato por isso. Meio século depois, se mantenho a lucidez, vou perdendo a capacidade de concentração. A idade não perdoa… mesmo.
Tudo começou há 50 anos (ai, ai…)
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