Os críticos de Paulo Bento são os mesmos que põem Fernando Santos em dúvida. Mas os quatro longos anos que tiveram de esperar para “acertarem” na saída do antigo selecionador fizeram com que recalibrassem a sua estratégia e refinassem o seu cinismo. O engenheiro foi a melhor solução para a Seleção? Sim, todavia, vejamos como a coisa corre… O costume. Alguns vivem disso há tantos anos que fiquei careca.
As reservas, férreas antes dos jogos – porque no fim, quando se ganha, logo se reduzem à aspereza do veludo –, voltam-se nesta fase para a velha e relha questão da renovação, uma palavra que, como sabemos, dá para tudo. Se perguntássemos a uma hiena, que se alimenta de cadáveres, se gostaria de renovação, decerto que ela pensaria no seu stock: desde que houvesse mais carne podre, renovar dava sempre jeito.
Mal se soube do onze inicial que defrontaria a Sérvia, surgiram as reticências, havia demasiada veterania. Dos 36 anos de Ricardo Carvalho aos 30 de Cristiano Ronaldo – no ocaso da sua carreira como ainda ontem se viu – passando pelos 33 de Tiago e Bruno Alves, pelos 32 de Bosingwa ou pelos 31 anos de Danny e Eliseu, aquilo eram teias de aranha a mais. Afinal, onde estava a renovação?
Mas o azar espreita atrás da porta. E desta vez vieram dois. O primeiro, na Luz: além da Seleção ter vencido uma equipa de estrelas, chegou do cabo da brigada do reumático, Ricardo Carvalho, o golo que abriu a lata. O segundo azar, no Estoril, deu-se dois dias depois: um Portugal B, composto por jogadores promovidos desde a convocatória a sucos da barbatana dos amanhãs, levou das boas de Cabo Verde.
E pronto, assunto arrumado, lá ficou de novo sem música a trova da renovação. Porque a solução é única e é a do engenheiro: por cada veterano que for caindo em combate, então, sim, um novo soldado ocupará o seu lugar. O resto é o sorriso cínico das hienas, nada mais.
Canto direto, Record, 6ABR15
Trova da renovação da Seleção ficou sem música
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