A 8 de Janeiro de 1985, desaparecia um dos nomes mais carismáticos do nosso futebol: José Maria Pedroto, também conhecido por Zé do Boné. Ainda hoje apelidado de mestre por muitos agentes desportivos, ele foi o visionário que cedo compreendeu a necessidade de controlar a podridão em que vivia o denominado sistema – e que basicamente consistia na gestão da arbitragem e no aproveitamento da incultura, má formação técnica e permeabilidade a influências de alguns árbitros.
Recordo com emoção a noite de Março de 1983 em que jornalistas do semanário Off-Side estiveram com Pedroto no Hotel Praia-Mar, de Carcavelos, onde o FC Porto pernoitava na véspera dos jogos na capital. Foi uma conversa fantástica com um homem de inteligência superior – alter ego de Pinto da Costa, tutor de Artur Jorge e percursor de José Mourinho – que sabia tudo sobre futebol e era, igualmente, um profundo conhecedor das pessoas.
Pedroto deu-nos conta dos seus cuidados quanto às arbitragens, dizendo-se preocupado com a perda ocasional do controlo da situação: “É que não estamos a lidar com gente normal. Acham que um ser normal se sujeitava a começar a apitar nos distritais e a ser constantemente enxovalhado e agredido?” E o certo é que foi o Benfica o campeão nessa época…
Já em 1980, o jornalista Neves de Sousa relatara, no Diário Popular, o colapso das negociações entre Pedroto e o Sporting, por o técnico ter pedido, e o presidente João Rocha recusado, uma cláusula contratual que previsse uma verba “para os árbitros”. Trinta anos após a sua morte, Pedroto gostaria talvez de saber que os erros continuam mas o futebol melhorou – ao contrário do País, onde se instalou um sistema em que simplesmente se rouba.
Quatro campeonatos, seis Taças de Portugal, dez clubes
Ao serviço do FC Porto, Pedroto foi bicampeão nacional como jogador e repetiu a proeza como treinador. Em ambas as condições, somou seis conquistas da Taça de Portugal. Vestiu 17 vezes a camisola da Selecção Nacional, da qual foi também seleccionador em 17 ocasiões. Começou a jogar nos infantis do FC Porto, e passou depois por Leixões, Lusitano de VR St. António e Belenenses. Para o recuperar, em 1952, os portistas pagaram 500 contos aos azuis de Belém, a mais cara transferência até então do futebol português. Como técnico, dirigiu ainda Académica, Leixões, Varzim, V. Setúbal, Boavista e V. Guimarães. Morreu cedo, de cancro, aos 56 anos, mas a lenda continua.
Parece que foi ontem, Sábado, 8JAN15
Ao serão com Pedroto
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