Alexandre Pais

Teresa Pais para sempre: os primeiros cinco anos de luta (em atualização)

T

POSTS DO BLOG PUNTOCEROSECONDLIFE – 2008-2013

A AJUDA DA JO
(o primeiro post, publicado a 17 de setembro de 2008)

Ainda não foi desta… Todos os dias penso que vou começar a quimioterapia, mas há sempre mais um passo a dar. Agora, falta uma ressonância magnética que, para efeitos comparativos futuros, tem de ser feita antes do início da quimio. E obedece a outra condicionante: ser realizada ao sétimo dia do período menstrual. Assim sendo, vai acontecer na próxima segunda-feira.

IMG_3289(1)2
Com a filha Joana, um ano antes de saber que tinha cancro, em 2007
Finalmente, hoje a médica disse que a mão inchada tem a ver com a neoplasia mamária (é mais bonito do que cancro da mama, não é?). Estava a ver que ninguém ligava à “mão de porco”, mas desta vez ouvi uma explicação. Infelizmente, já não sei reproduzi-la. Qualquer coisa como gânglios inchados debaixo do braço (?).
O Júnior e eu decidimos hoje pedir uma consulta de acompanhamento psicológico. A médica anuiu, quando comprovada a nossa falta de sintonia nesta matéria. Eu quero organizar tudo para o caso de morrer, ele recusa-se a falar sobre isso. A médica deu-lhe razão, tenho de confessar, e fez o pedido da consulta. De qualquer forma, sobre a Joana, parece que a melhor solução é dizer-lhe o mais possível, dentro dos limites da naturalidade e sem a alarmar: a mãe tem uma doença nas costas, está a tratar, mas os remédios são fortes e, se calhar, vai-lhe cair o cabelo. O conselho da médica é que ela vá comigo cortar o cabelo. Acho que ela vai ser uma grande ajudante e comportar-se à altura da situação.
Bom, assim se passou mais um dia, rumo ao fim deste pesadelo. Beijinhos.
T.

SERÁ QUE DESTA VEZ EMAGREÇO?
(publicado a 17 de setembro de 2008)

Olá a todos. Como já sabem, a minha vida deu uma voltinha. Eu até queria ser magra, mas será que tinha de ser assim? E será que desta vez resulta?

277487_250764998271014_7570990_o
A receber o Prémio M&P da TV Mais, como Melhor Revista de Televisão

Resolvi criar este espaço para que nos mantenhamos em contacto sem precisarmos de falar muito ao telemóvel, o que, como sabem, adoro fazer, mas agora nem sempre posso. Até porque vocês, para sorte minha, são mais do que eu pensava.

A minha intenção é contar-vos aqui o que se vai passando e receber as vossas mensagens de misericórdia. Estou a brincar, claro. A ideia é uma boa ideia, a artista é uma boa artista e isto não é um espaço para bebés chorões.

Apareçam sempre! Beijos, e obrigada por serem meus amigos.

T.

A MINHA VERDADE
(publicado a 28 de novembro de 2011)

As notícias da morte da Adelaide e da minha recidiva chegaram juntas, com a distância de poucos minutos. A nova medicação que me fez sonhar com um futuro melhor/maior começou no dia em que me despedi, pela última vez, da Fátima. Agora, sonho com as duas. Ontem, andaram à minha roda, chamaram por mim e disseram-me que estavam lá para me receber, que não tivesse medo… Vou gostar de revê-las e de poder reparar muito do que ficou por dizer entre nós. Não tenho medo do outro lado, aquele em que elas estão e, a fazer fé no meu sonho, parecem bem…

Liberdade94
Com Fátima Raposo, vítima mortal de um acidente de viação, em 2011. Foto em Nova Iorque, em 1994
Só tenho medo deste mundo que deixo e de como partirei. Do que terei de sofrer e fazer sofrer até lá, da dor e angústia que deixarei numa criança e quais as consequências que isso virá a ter na sua vida… As mães têm filhos para amá-los e cuidar deles, não para deixá-los quando ainda tudo está a começar nas suas vidas… Dói que se farta, dói muito mais do que os ossos e o resto que ainda venha a querer magoar-me. Nunca nada poderá doer mais do que isto, seja lá o que possa vir a ser. (Os mais crescidos terão de aguentar bravamente…)
O Júnior acha que o que eu sinto é um exagero, mas na minha verdade, não é. Há dois meses tirei uma mama (não sei porquê mas as pessoas parecem achar que isso não custa nada) e há um mês e meio que ando doente. Primeiro, com os efeitos secundários dos comprimidos, depois com uma constipação brutal que ainda não consegui curar totalmente (o ouvido direito “foi-se”), uma estomatite aftosa de alto gabarito que começa agora a dissipar-se e que me proporcionou vários dias de incapacidade de engolir e comer sem dor e, ainda, um desarranjo intestinal com vários princípios e fins (foi ponto alto nos primeiros efeitos secundários do medicamento), até esta última vez, que ainda não terminou e que, podemos dizê-lo, atirou comigo ao chão, obrigando-me a dias e horas de náuseas, dores, sanita, noites sem dormir…
T8
Com Adelaide Nascimento, colega de redação, vitimada por um cancro no pulmão, em 2011
Exagero, diz a minha verdade, que não é parva, é uma pessoa ser obrigada a passar por tudo isto pelas razões porque eu passo, ou seja, para sobreviver. E a minha cabeça entra em alerta vermelho e coloca amiúde a questão: será isto o princípio do fim?
À minha verdade, parece-lhe que sim, que está mais ou menos na hora. Diz-me ela que a maior parte das pessoas que encontram um cancro no estado de progressão em que eu dei com o meu, não andam por cá três anos depois, felizes e contentes. Lembra-me ainda que, amanhã, na consulta, as análises, que já estão feitas, podem revelar uma de duas coisas: ou que o comprimido não está a fazer efeito; ou que até está mas o meu organismo não o tolera e qualquer infecção passa a ser um risco de vida. Ou as duas, sei lá.
A minha verdade tem-me infernizado a vida com pareceres e dúvidas. E tem-me deixado triste e amargurada. A minha verdade não acredita em boas notícias amanhã. Era bem feito que se enganasse, para o Júnior lhe dizer “eu não te disse?” Beijos,
T.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas