Chauvinista, a capa do diário espanhol ‘AS’, titulava ontem, após a humilhante derrota caseira da ‘Roja’: ‘Menos mal que nos falta Portugal’. Não gostamos da provocação? Não, mas… O certo é que os nossos vizinhos têm mais do que motivos para a arrogância – e para ter a vitória amanhã, em Braga, como dado adquirido.
Eles recordam-se talvez melhor do que nós – que apagamos rapidamente da memória o que devíamos preservar para que não se repetisse – dos recentes insucessos da Seleção Nacional quando joga em casa, tem tudo na mão e tudo deita a perder. Foi assim na anterior edição da Liga das Nações, em novembro de 2020: também liderávamos o grupo e fomos derrotados na Luz, pela França (0-1), na partida decisiva. Como foi assim um ano depois, ao falharmos frente à Sérvia (1-2), igualmente na Luz, o apuramento direto para o Mundial. Teremos aprendido essas lições?
A esperança de que não haja duas sem três reside agora no entendimento coletivo de que nada serve liderar o grupo e atuar em casa se não entrarmos em campo com a postura correta: não com a fanfarronice do comandante do navio carregado de canhões, mas com a do náufrago que tem de lutar duramente para sobreviver. Amanhã é dia de tudo ou tudo porque a classificação para a Final Four da Liga das Nações constituirá o maior estímulo – e a melhor preparação, faltam só 55 dias! – para o Qatar’2022.
Sim, dependemos 90 por cento da atitude, do coração com que os jogadores encararem o desafio, pois nos outros 10 por cento temos, de momento, clara vantagem sobre a espanholada. A exibição contra a República Checa foi muito boa, há gente em grande forma e um capitão que vale, até regressar aos golos, pelos espaços que abre, pelo respeito que infunde e pelo espírito de luta e de união que patrocina num grupo de profissionais admiráveis. Com Pepe, Cancelo, Guerreiro, Sanches, Otávio, Félix e outros de fora, ir à Chéquia vencer de goleada e com tão bom desempenho só nos pode deixar não otimistas mas confiantes. Tivesse havido melhor definição no último passe e teriam sido seis ou sete batatas lá dentro.
É verdade que Luis Henrique fez alguma gestão do plantel e Fernando Santos, a ganhar por 3-0 aos 52 minutos, demorou mais 15 (!) – porquê? – a substituir titulares ‘semi-esgotados’, como Bernardo, Bruno ou William. E teve a sorte de Danilo ter evitado, durante 84 longos minutos, o amarelo que daria a Djaló a titularidade contra a Espanha… Coisas do passado que já nada valem, é claro. A Seleção depende da sua força mental, ponto.
Por força mental, uma palavrinha para Rafa Silva e para o nada bonito gesto da escolha do ‘timing’ para abandonar a Seleção, apenas isso. Porque, afinal, Rafa ‘não existe’ ao nível do futebol internacional, já não tem idade nem procura de mercado para emigrar e pouco contava para o Engenheiro, pelo que faz muito bem em se dedicar exclusivamente ao Benfica e à sua cabecinha. Sorte é o que se lhe deseja!
Menos bonito ainda foi o mau gosto do comentador engraçadinho que, para valorizar o espírito desportivo no padel, afirmou num canal especializado: “Não há Taremis aqui”. Mas há idiotas e esse é o real drama que enfrentamos.
Parágrafo final para a retirada de Roger Federer. Despediu-se o melhor tenista de sempre e talvez o maior desportista de todos os tempos. Como disse Rafael Nadal na hora do adeus do rival e amigo: “Uma parte muito importante da minha vida também termina”. Obrigado – aos dois – por essa parte, duas décadas de emoção, prazer, sofrimento e magia. Chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 26set22 (versão integral)