Bruno de Carvalho tem perante si um dilema tão grande quanto aquele com que se debateu antes de decidir candidatar-se à presidência do Sporting: continuar a protestar pela maneira como perdeu – muito mais votantes, menos um punhado de votos – ou contentar-se com o fogo fátuo que o trouxe à ribalta nas últimas semanas e posicionar-se da melhor forma para o futuro.
Não restam hoje grandes dúvidas sobre os motivos que transformaram a sua vantagem em quatro sondagens consecutivas numa derrota sobre a meta: ao mesmo tempo que galvanizou os associados mais novos, seduzidos pela “mudança” – significasse ela o que significasse – assustou, com russos e laivos de algum arrivismo, os sócios mais antigos. E os que não saíram de casa de manhã, pela fresca, para votar em Godinho Lopes, resistiram à inércia e decidiram-se pela ação ao cair do pano, votando, pelo sim pelo não, no conforto que Dias Ferreira representava.
A atitude de Bruno de Carvalho, no final da madrugada eleitoral, amenizando o ambiente explosivo, terá somado ainda novas simpatias e reforçado o seu capital para o futuro. Mas para que possa vir a desempenhar um dia o papel que ambiciona, é agora indispensável que dê o contributo para que haja só um Sporting e não dois. É preciso que se mantenha discretamente em cena, apoiando ou criticando de modo sereno, mantendo-se como referência eleitoral e reserva leonina, sem nunca o dizer. Se optar pela guerrilha permanente e ficar ligado à ameaça imediata que paira sobre Alvalade – a de o clube se tornar ingovernável – depressa os que ontem o aplaudiram o abandonarão.
Godinho Lopes, que ganhou também porque foi capaz de chamar para a sua lista profissionais que dão 10 a zero a alguns amadores que se perfilaram com desfaçatez, tem um trabalho tão difícil sobre os ombros – a começar já pela defesa do terceiro lugar na liga – que qualquer mosquinha que zumba ficará com o ónus do prejuízo pelo que o leão não for capaz de comer.
Minuto 0, publicado na edição impressa de Record de 30 março 2011