Alexandre Pais

A defesa está ótima, o pior é o manicómio

A

Grande foi a demonstração de capacidade da Seleção, superando claramente uma Bélgica fortíssima, a atuar em casa e a não lograr o que raramente falha: golos. Fernando Santos parece ter acertado no quarteto defensivo titular – não por acaso, o da final do Europeu – que se exibiu a alto nível, permanecendo, todavia, um velho problema. É que com a carga de jogos do Mundial vai ser preciso rodar e as quatro alternativas não estão no mesmo patamar – por experiência a mais ou experiência a menos. Recordo o erro da utilização consecutiva, há dois anos, do já veteraníssimo Ricardo Carvalho, nos três desafios iniciais do Europeu, disputados em apenas nove dias. À terceira partida, contra a Hungria, sofremos três golos, o central, de 38 anos, “rebentou” e assim fez a sua despedida da Seleção – nunca mais jogou.
Mas para mim o melhor do encontro de Bruxelas foi o último quarto de hora da primeira parte, com Gelson, Guedes e Bernardo à solta e a darem uma noção do que poderá ser a Seleção do futuro. Houvesse um “matador” de talento aproximado e ninguém teria pena de nós. Como não há, ou muito me engano – talvez André Silva esteja a um passo de nos surpreender – ou voltaremos, dentro de dias, às lamúrias habituais pela falta de um “9”…
Depois do “assédio” a Marco Silva, no final de 2017, que conduziria à baixa de rendimento do Watford e ao despedimento do então seu treinador, em janeiro último, o Everton contratou finalmente o ex-técnico do Sporting. Conheci-o na redação do Record, quando viu connosco vários jogos da Seleção, deixando sinais de determinação e um rasto de modéstia e simpatia. Espero, por isso, que alcance em Liverpool a estabilidade que lhe recusaram em Alvalade – foi a primeira vítima do que não se sonhava ser o desvario – mas igualmente no Olympiacos, onde não cumpriu a segunda época do contrato, no Hull City, que não conseguiu manter na divisão principal, e no Watford. Se a competência de Marco é inegável, o tempo agora é o da confirmação: tem de fechar normalmente um ciclo.
Com Marco Silva no Everton, teremos na próxima época três treinadores portugueses na Premier, o que diz muito sobre a capacidade dos nossos técnicos. E podiam ser quatro, assim tivesse Carlos Carvalhal sido capaz de manter o Swansea no escalão principal – e esteve quase.
E a propósito de treinadores, uma palavra também para Júlio Velásquez, que passou pelo Belenenses com mais elegância do que êxito. Há duas épocas ao serviço do modesto Alcorcón, da segunda liga espanhola, Velásquez, de 36 anos, terminou no sábado o campeonato com uma vitória que não só afastou o clube dos arredores de Madrid da despromoção, como o classificou em 13.º lugar entre 22 equipas. Parabéns!
Devemos olhar para a crise do Sporting, relativizando o problema dentro do espaço reservado às necessidades de tratamento psiquiátrico: é que vivemos num pais que entrou em transe com os incêndios do ano passado mas onde mais de dois mil (!) proprietários foram agora alvo de contraordenações por não limparem os seus terrenos. Ou seja, preferem perder os bens, e até morrer, a cortar as árvores encostadas às casas, a afastar as pilhas de lenha e a retirar os montes de tralha. Sugeria até a Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros, que nos tempos livres entre as asneiras que protagoniza, com os outros artistas, em Alvalade, perguntasse ao Governo – e para isso ele tem o jeito que falta a quem devia – se no que toca às propriedades do Estado, às matas das grandes empresas e às beiras das estradas o trabalho está feito. Desconfio que não. Por isso, tenhamos calma e integremos o manicómio de Alvalade na vasta rede nacional de cuidados de saúde mental. Até à hora do colete de forças, há sempre esperança.
Outra vez segunda-feira, Record, 4JUN18

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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