Orgulho-me de ter feito parte da frente de jovens portugueses que antes de 25 de abril de 1974 deixaram crescer barbas e cabelos como forma de protesto contra a ditadura. A referência era Ernesto Che Guevara, Fidel Castro e o seu grupo de guerrilheiros cubanos, que ao descerem da Sierra Maestra até Havana, para derrubar Fulgêncio Batista, em 1959, fizeram com que os inimigos procurassem diminuir-lhes a proeza, classificando-a como a “revolução dos barbudos”.
O poster do Che. A imagem clássica de Guevara – que morrera nas selvas da Bolívia, em 1967 – aquela da boina com uma estrela de cinco pontas, era mesmo proibida em Portugal. Recordo de me terem apreendido, na alfândega do aeroporto de Lisboa, um poster do Che, que comprei em Londres, no início da década de 70. Mas aos zelosos funcionários escapou a t-shirt com estampa semelhante, que vesti por baixo da roupa e que conservei até hoje – hoje que deixei de lá caber e que já nada tenho de guevarista, pelo contrário. Mas é um símbolo que marcou a minha geração.
Cinco em 28. Voltei ontem a esses gloriosos tempos ao assistir ao dérbi e verificar que dos 28 jogadores utilizados apenas cinco (!) se apresentaram de rosto barbeado: quatro do Benfica – Luisão, Lindelof, Cervi e Jiménez – e um do Sporting – Podence.
1-1 em cheio. Os leões jogaram mais mas estão muito dependentes da finalização de Bas Dost, que Lindelof meteu no bolso, e o Benfica, jogando um pouco menos, chegou ao empate a uma bola – que antevi na edição de sexta-feira, no TotoRecord, ah, pois é!… – e continua a depender somente de si próprio para ser campeão.
Cartilha. Agora, dada a importância do visual da moda, que um estudo recente atribui não tanto à intenção masculina de impressionar as mulheres, antes à convicção de que as barbas fazem os homens “mais maduros, fortes e agressivos”, o desempate tem de ser feito a favor dos de Alvalade (13-10) – ainda que fossem de Mitroglou e Rafa os adornos mais vistosos. É que no onze titular o Sporting mostrou-se solidário e coerente, apenas com dois jogadores a não aderirem totalmente à cartilha barbuda: William, com o seu clássico bigode, e Gelson Martins, com uma “perazita” envergonhada. Já os treinadores Jesus e Vitória, e o árbitro Soares Dias se exibiram de cara lavada. Mas esses, coitados, são velhos, não entram nesta história.
Contracrónica, Record, 23ABR17
Sporting venceu o dérbi dos barbudos
S