Nos vencedores consistentes, a sobranceria arrepia. Mais arrepia, acrescida do ridículo, nos perdedores e, ainda mais, em vitórias esporádicas. Com os fracassos do presente, os líderes do Benfica não deixam o clube libertar-se dos anos 60. Faz parte do fatalismo português, o passado a driblar o presente.
Nos últimos 30 anos, o palmarés do Benfica é medíocre. No ano passado, foi campeão e inchou, inchou de sobranceria como se esta transformasse uma águia num dragão. Tanto inchou que rebentou, sem chegar a dragão, no domingo, na Luz.
O Benfica perdeu e perdeu bem, ao chuto para a frente respondeu o FCPorto com futebol apoiado e oportunidades de golo, com cheiro a goleada. A nota artística foi elevada – essa das notas artísticas é delirante – mas no final do jogo, com silhuetas recortadas no escuro a serem regadas por potentes jatos de água. Milhões de espectadores, em todo o Mundo, admiraram as notas artísticas do Benfica. E o maestro não é eletricista.
Quanto uma liderança não se enxerga, não pode permitir que se enxerguem os festejos de um campeão.
Bilhar grande, publicado na edição impressa de Record de 6 abril 2011