Da Sport TV à Eleven Sports e à BTV, a mania tornou-se epidemia: jogador de menos de 20 anos é logo rotulado de “menino” por alguns narradores de serviço, deslumbrados pela sua originalidade, que repetem a graça dezenas de vezes. No último fim de semana foi um massacre.
Não tenhamos ilusões: por intragável que seja, a moda veio para ficar. Desde a noite em que no firmamento de estrelas se distinguiu o brilho intenso de Ansu Fati, o guineense que chegou a titular do Barcelona aos 16 anos e 298 dias, os falsos meninos passaram a ter um rei e os comentadores um álibi. Nascido em Bissau, Ansu Fati devia ter crescido no Seixal ou em Alcochete – tanto olheiro inepto, tanta parceria desperdiçada… – mas os especialistas do Barça levaram-no de Sevilha, com os irmãos, quando tinha 10 anos e o pai procurava para eles um futuro melhor. Depois, a fábrica de La Masia honrou a sua fama e fez do menino um diamante.
Nem de propósito. Após a apagada exibição no Anoeta – semelhante, aliás, às de Cristiano, em Florença, e de Guedes, em Camp Nou – o nosso menino João Félix foi classificado como um dos piores do Atlético no ranking da equipa madrilena publicado na “Marca”, diário que já lhe aponta um defeito: o “excesso de adornos”. E ainda a procissão vai no adro.
O sucesso de Bruno Lage criou outra tendência: a dos treinadores com carreiras modestas a quem são dadas oportunidades na liga principal. Leonel Pontes voltou a casa – e não foi má a exibição no Bessa –, o ex-adjunto de Marco Silva, João Pedro Sousa, surpreende com o Famalicão na liderança do campeonato, e o Belenenses SAD chamou Pedro Ribeiro, ex-assistente de Vítor Pereira – e a estreia não podia ser melhor para o “menino” de 33 anos.
Escrevi aqui, há semanas, demasiado cedo e mal, que Jorge Jesus estaria quase de regresso… Mas o que se vê é o Flamengo em primeiro, já a 5 pontos do segundo, tudo com o “menino” igual a si próprio nas gafes linguísticas, nas opiniões desassombradas e no conhecimento profundo do futebol e seus segredos.
Menos tranquilos quem temos? Referências como Augusto Inácio, Carlos Carvalhal ou Sá Pinto, este a ter um duelo importante na quinta-feira, com o Wolves de Nuno, igualmente em dificuldade na Premier. E há outro “menino” a tremer: César Peixoto, sim, que a Académica soma desaires sucessivos.
Campeão dos campeões de snooker, Ronnie O’Sullivan, “menino” de 43 anos, engrandeceu um pouco mais a sua lenda ao vencer ontem, pela quarta vez, terceira consecutiva, o Masters de Shangai. Desde que Roger Federer perdeu a final de Wimbledon, há um par de meses, que eu andava a precisar deste ato de reparação. E o dia chegou!
O parágrafo final vai para o meu amigo Tommy, ontem pela primeira vez titular do Belenenses SAD – que foi ganhar à Madeira. Na companhia dos respetivos papás, vi com ele, no Restelo, o Belenenses-Sp. Braga da derradeira jornada da época de 2003/04. No intervalo da partida, despediu-se dos adeptos azuis o grande e já desaparecido Miguel Di Pace, o “maestro”, então em romagem de saudade a Lisboa e que esteve aqui connosco, no Record. Passaram 15 anos, ai, ai… Abraço, Tommy!
Outra vez segunda-feira, Record, 16set19
Só por Ansu Fati vale o massacre dos meninos
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