Meses atrás, dediquei aqui uma crónica ao excesso de entusiasmo dos sportinguistas, que rapidamente se transformou em simples esperança e deu depois naquilo que vemos hoje: uma desilusão profunda. Porque os desafios não se ganham com o prestígio das camisolas, mas antes com realismo, tranquilidade, engenho e trabalho – e ganham-se, especialmente, com os jogadores.
É a essa postura que Rui Vitória tem sido fiel, tanto nos momentos em que as coisas não correm bem, como, em particular, quando as vitórias se sucedem, a plateia fica eufórica – e na euforia os fãs do emblema da Luz são imbatíveis – e a equipa se contempla, baixando a guarda.
Em vez de se agarrar, como um náufrago à tábua, aos incríveis erros de arbitragem da partida com o Boavista – lá se vai a tese da conspiração vermelha –, o treinador dos encarnados reconheceu que o seu onze entrou mal no jogo, lembrou que a equipa não é invencível, salientou a “reação fantástica” que possibilitou a recuperação do 0-3 e recusou culpar o árbitro pelo empate – que podia até ter dado em derrota se, na parte em que a força já faltava, Ederson não estivesse ao seu melhor nível.
Rui Vitória também não disse uns palavrões na cara de Luís Ferreira, nem participou num “show off” que lhe permitisse salvar a face. Ele sabe que o foco deve estar nos jogadores e que a euforia tonta é inimiga dos objetivos. E esse é o caminho – com jogos florais não se conquistam títulos.
Canto direto, Record, 16JAN17
Rui Vitória: um homem sábio
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