Alexandre Pais

Rui Costa precisa de luz própria

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Afastado Luís Filipe Vieira, as armas estão agora apontadas para o ‘príncipe herdeiro’. E não precisam de ser os adversários do emblema da Luz a cavar-lhe a sepultura, são mesmo alguns benfiquistas a encarregar-se da tarefa, recorrendo para isso a todos os golpes baixos de que sejam capazes.

Viu-se o que fizeram a Vieira. Sem que exista ainda uma acusação, da fama de ter roubado o Benfica já não se livra. Que interessa o estado lastimável em que encontrou o clube, a forma como o recuperou, as estruturas que criou, os êxitos que alcançou? Nada, o que conta para os despeitados é apenas o que possa ter corrido mal, sejam os títulos que não pôde conquistar, sejam as ações que prometeu ou quis vender, o dinheiro que saiu e entrou ou deixou de entrar. Tudo o resto foram bagatelas.

De idêntico modo tratam Rui Costa, como se Vieira tivesse acolhido um tontinho cuja única qualidade conhecida fosse o seu benfiquismo. Para começar, e ao contrário de tantos caçadores de dólares que terminam as carreiras onde haja petróleo ou otários dispostos a derreter fortunas, Rui Costa quis acabar a sua jornada em casa e cimentar de encarnado um percurso futebolístico esplendoroso. Depois, foi Luís Filipe Vieira que o manteve por perto, por acreditar nele, certamente, mas também para desincentivar eventuais tentações de concorrência eleitoral. E esse foi, para Rui Costa, o caminho das pedras. Levou anos, muitos, a ter voto na matéria, a sentir-se que tinha algum poder, que mandava qualquer coisinha. Excetuando os últimos tempos, Vieira foi sempre claro: quem manda aqui sou eu.

Tombado o homem que, enfim, o tinha sugerido como ‘sucessor’ – igualmente para travar veleidades a José Eduardo Moniz, o cardeal Richelieu da corte – Rui Costa foi logo apontado, a começar por aqueles que odiavam Vieira, como o traidor que ocupou o trono com o corpo do rei ainda quente. A presença da família no ‘ato de posse’ de um cargo para o qual não tinha sido eleito, como se fosse um triunfo pessoal, foi de facto um erro, mas a falta da referência ao nome do antigo presidente deve ser compreendida à luz da realidade. Por um lado, Rui Costa retribuiu com indiscutível lealdade e intencional apagamento a confiança de quem, claramente, beneficiou com o seu apoio. E por outro, precisa de traçar um rumo com assinatura para deixar de ser um satélite e ter brilho próprio. É assim a vida.

E precisa mais, valha a verdade: que o Benfica ultrapasse o Spartak, sucesso sem o qual dificilmente sobreviverá à intensidade do fogo posto por um bando de incendiários, de gente pequena, invejosa e afetada, e em quem, se eu fosse benfiquista, confiaria tanto como o diabo confia na cruz.

Parágrafo final para Novak Djokovic e para as cenas lamentáveis que interpretou no Japão. Raquetas partidas ou atiradas ao ar e queixas de supostas lesões marcaram o seu afastamento dos JO – sem qualquer medalha. Pior, mesmo, só a renúncia a disputar a final de pares mistos, impedindo a sua parceira de tentar alcançar a glória olímpica, talvez a oportunidade de uma vida. Grande tenista, péssimo desportista e exemplo deplorável para os mais novos!

Outra vez segunda-feira, Record, 2ago21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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