Alexandre Pais

Renan irá ser um dos grandes guarda-redes do Sporting?

R


Nenhum outro clube em Portugal teve tantos grandes guarda-redes como o Sporting. Dos sete que incluo na galeria de ouro do emblema de Alvalade só não vi jogar João Azevedo, de quem o meu querido pai dizia maravilhas. Pude, sim – eu que fui fã do inesquecível José Pereira, pássaro azul e génio das balizas – vibrar, ao longo de décadas, com exibições fantásticas destes seis: Carlos Gomes, Vítor Damas, Tomislav Ivković, Peter Schmeichel, Ricardo e Rui Patrício.
Com a partida do titular da Seleção para Inglaterra, o Sporting entrou no inevitável e complicado processo de lhe descobrir um sucessor. Começou mal: Viviano foi um flop e Salin cumpria… sem convencer. Abriu-se assim a janela de oportunidade para a terceira escolha, Renan Ribeiro, profissional de histórico modesto no Atlético Mineiro e no São Paulo, e que há um ano o Estoril emprestou aos leões – a isso chegámos.
A verdade é que o brasileiro foi segurando o lugar, à custa de experiência, boas mãos, reflexos rápidos e de algumas defesas só ao alcance de guardiões de primeira linha. Há dias, na meia-final da Taça da Liga, ao suster três penáltis e com isso qualificar a sua equipa, parecia Renan ter convencido de vez os mais céticos e o Sporting ter encontrado, de facto, um dono da baliza à imagem do antecessor. Até que…
Até que um remate envenenado de Herrera, com o número 40 leonino a permitir que a bola lhe batesse no peito e se escapasse para a frente, abriu caminho à recarga de Fernando Andrade e ao golo do FC Porto. Foi quanto bastou para fazer esquecer as notas positivas em desafios sucessivos e deixar à solta nas redes sociais os desequilibrados que vão do êxtase ao desespero – e choveram críticas misturadas com insultos. Este gajo é uma m…! – foi do mais brando que se leu. Até que…
Até que novo desempate através da marcação de penáltis fez depender a abalada glória sportinguista da competência do homem de Ribeirão Preto. E ela assinou o ponto quando Renan segurou o remate de Hernâni ou mesmo quando desviou com o olhar – prerrogativa dos predestinados – respetivamente para fora e para a barra as tentativas de concretização de Militão e Felipe, compatriotas amigos. Com tal proeza, Renan Ribeiro retomou de imediato o estatuto de estrela e ganhou lugar vitalício nos corações de leão. Pelo menos, até que…
Até que o crescimento de que ainda seja capaz – fará 29 anos em março – e o resto da época confirmem ou que se trata apenas de um bom guardião ou que reúne condições para vir a ser o oitavo nome na prateleira dourada dos grandes guarda-redes. Que são aqueles, afinal, que podem falhar de vez em quando mas que são também protagonistas das defesas extraordinárias que outros não conseguem, em especial as que evitam “in extremis” a entrada de bolas que já estávamos a “ver” dentro das balizas – que são essas que valem títulos e criam as lendas. Façam as vossas apostas!
O último parágrafo vai hoje para o denominado secretário de Estado do Desporto, que interrompeu as férias em Marte para se pronunciar sobre as misérias em torno da fase final da Taça da Liga. Das declarações redondas de João Paulo Rebelo, carregadas de frases feitas, sublinho o apelo que sintetiza a profundidade da sua intervenção: “Por favor, não matem a galinha dos ovos de ouro”. Sei que não me devia rir, mas se me ponho a chorar receio não conseguir parar.
Outra vez segunda-feira, Record, 28jan19

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas