Carlos Queiroz entristece-me. Entristeço-me sempre que vejo alguém a viver o presente sentado nos sucessos do passado. Nunca sabem sair e saber sair não é para todos, sabemos.
Queiroz, virado para si, não percebeu que tinha afastado a Seleção dos portugueses e a ele próprio de todos. A postura, o discurso redondo e o seu futebol eram tão saturantes e desmotivantes que se deveria ter afastado no final do campeonato do Mundo. Apesar de a Federação flutuar, tipo cortiça, o fim acabou por ser o que foi. A Seleção seguiu, com sucesso e de volta aos portugueses. Eis que senão, ligo a televisão e vejo-me a regredir: Queiroz e o seu discurso estavam ali. Mudei de canal, não se aguenta.
Vivi casos destes ao longo da minha vida profissional, mas um é exemplar: um diretor de um jornal fazia discursos longos e redondos a justificar a quebra constante de vendas. Um dia fez história ao afirmar: “Como é possível não haver aumento de vendas se os meus editoriais são perfeitos na forma e no conteúdo?” Nem mais, o problema era dos leitores, tal como Queiroz com os portugueses. Muito melhor, com os iranianos.
Bilhar grande, publicado na edição impressa de Record de 13 abril 2011