O Mundial entrou, para nós portugueses, numa espécie de limbo, seguimos a prova com algum interesse mas não nos entusiasmamos por aí além. Ainda por cima, agora, com a Espanha na final, voltamos a ter que pensar um pouco de que lado estamos, divididos entre o atrevimento dos artistas holandeses e a quase irritante competência dos nossos vizinhos, fanáticos da circulação de bola e do controlo do jogo, e crentes no golo salvador que tanto pode sair de uma antecipação de El Niño para a história, como da recorrente veia concretizadora de Villa ou da cabeça banal de um Carles qualquer, que vai ali a passar, salta mais alto que as desajeitadas torres germânicas, e pumba, toma lá para dentro.
Quem deve estar feliz é Carlos Queiroz. Afinal, a partida de ontem provou que até a super-Alemanha, tão cantada pelos opinadores como a invencível máquina de jogar futebol, o modelo perfeito da eficácia, não foi capaz de fazer melhor do que a seleção de Portugal. E se a equipa de Del Bosque ganhar também o confronto final de domingo, Queiroz pode mesmo dizer, naquele discurso que tudo relativiza e tudo desculpa, tão do seu agrado, que fomos afastados do Mundial por um único golo sofrido frente ao campeão da Europa e… do Mundo.
Averdade é que o adepto do futebol já está mais virado para o recomeço dos treinos do seu clube e com os “reforços” que se vêem a chegar por atacado a todo o lado, como se as SAD´s não estivessem, como o País, tesas que nem um carapau. Mas é o renascer da ilusão tantas vezes perdida e outras tantas renovada, que nos mantém ligados à magia da bolinha que rola indiferente a problemas e crises.
Como já não embarco em fantasias e os novos dirigentes do meu clube vão pôr-me a chamar pelo Gregório, fixo-me no Tour. Mas até sábado, dia em que entramos nos Alpes, a prova está entregue aos roladores, que são uma chatice. E o furo de Armstrong já o fez atrasar. Vou mas é de férias.
Minuto 0, crónica publicada na edição impressa de Record de 8 julho 2010