De vez em quando, ouvimos uns arrivistas a “propor” o julgamento dos responsáveis políticos pelo estado a que o País chegou, como se fosse possível atingir um consenso acerca dos nomes a levar a juízo ou as opções tomadas pelos que alcançaram o poder na sequência do voto popular – certas, erradas ou mesmo parecendo absurdas – não fossem legítimas. Julgar a democracia era, na verdade, o que tal gente gostaria.
Lembrei-me dessa ideia peregrina após a direção dos leões ter decidido avançar com processos judiciais “contra os responsáveis da arbitragem que conduziram a que o Sporting ficasse fora das competições europeias (…) e pela retirada de pelo menos sete pontos no campeonato”. Compreendo a indignação leonina pelos grosseiros erros de árbitros que dirigiram jogos do clube, mas gostaria de ver também referidas, à luz de idêntico rigor e em nome da credibilidade, as partidas em que o Sporting saiu beneficiado, nem que exista só uma. E depois, para que o caso tivesse ponta por onde se pegasse, teria de se provar que houve corrupção, má fé ou associação criminosa para prejudicar objetivamente o Sporting – uma missão impossível.
Bruno de Carvalho tem uma estratégia clara: manter o Sporting e o seu futebol na primeira linha da atualidade. Acabaram os azares, os salamaleques e os paninhos quentes, o que é bom. Mas o caminho é o da renovação das estruturas e não o foguetório cuja repetição conduz apenas à ineficácia e ao ridículo. Lograr acabar, por exemplo, com a espessa manta de impunidade que protege os maus árbitros, com o método corporativo da sua seleção, e com os obscuros critérios que escondem relatórios e definem nomeações, seria um enorme serviço prestado à arbitragem e ao futebol.
Porque o que estraga a melhor modalidade do Planeta são os incapazes: jogadores, treinadores, dirigentes ou árbitros. Todos caem como tordos mal fique exposta a sua incompetência. Todos? Não, num edifício do centro da capital há uns abencerragens que resistem. Enquanto não os tirarem de lá, esta suja realidade de suspeição, asneira e alteração da verdade desportiva não deixará de nos atormentar.
Canto direto, Record, 15MAR14
Processar os árbitros é ridículo
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