Ou Pinto da Costa já não é o mesmo ou estamos perante um enigma, uma dúvida insolúvel, algo que não entendemos e que quero partilhar com os meus leitores, talvez isso me ajude.
Comecemos pela “hesitação” de Luís Filipe Vieira em prolongar o contrato de Jorge Jesus, uma “hesitação” que só a certeza do título, ainda longe de se verificar, poderá matar. Parece-me lógico considerar que se o Benfica não for campeão o ciclo do técnico no clube estará terminado, ainda que a eventual conquista da Liga Europa e da Taça de Portugal pudesse complicar tal certeza.
Mas Vieira comete, em minha opinião, um erro grave: o de não reconhecer – e não reconhecerá? – que existe um Benfica antes de Jorge Jesus e outro a partir da chegada do treinador. JJ trouxe níveis de exigência nos desempenhos, e de pressão, por resultados e por objetivos, que os encarnados não tinham e se arriscam a perder. E uma vez perdidos esses níveis, recuperá-los será nova tarefa épica. Valerá a pena o risco que Luís Filipe Vieira está a correr?
É nesta situação de impasse que já devia haver – e não haverá? – o dedo de Pinto da Costa em ação. Primeiro pelo perfil técnico e pela personalidade de Jorge Jesus, que encaixam na perfeição na filosofia da exigente, determinada e jamais ineficiente “máquina” portista. Depois pelos estragos, verdadeiramente diabólicos, que a sua saída para o rival nortenho provocaria no Benfica, no seu futebol e na popularidade do seu presidente.
É verdade que se deteta nesta saga um obstáculo de peso: a exigência salarial de Jorge Jesus, que entende que se é um técnico vencedor isso deve ter um preço e esse preço serão 4 milhões/ano. Pinto da Costa nunca pagará tanto? Parece certo. Mas eu desconfio sempre muito das cabecinhas pensadoras. E daquela então…
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 20 abril 2013