A dificuldade que Bruno Alves teve em levantar-se, no lance do segundo golo dos Estados Unidos, e que permitiu a entrada pouco académica mas vitoriosa de Bradley, exemplificou o drama da equipa de todos nós: condição física de rastos a trair o querer e a vontade de sempre. Depois, na partida com o Gana, ganha com pundonor e aplicação, essa atitude foi mais visível. E bastam as quatro oportunidades flagrantes não concretizadas por Cristiano Ronaldo – e não falhadas porque o guarda-redes também joga e a trave está lá – das quais seguramente resultariam os três golos que faltaram, se a situação fosse “normal”, para ficarmos com a certeza de que tudo fizemos para deixar o Brasil de pé. E deixámos, queira-o ou não a brigada do ódio e da indignação nacional.
Argumentam os velhos inimigos do selecionador, agora de novo com a cabeça de fora após alguns anos trancados e com falta de ar, que fizemos um Mundial desgraçado. Não vejo porquê. Desgraçado foi apenas o resultado do desafio com os alemães, que estava a correr bem até o cérebro ter parado, em poucos minutos, a três dos nossos jogadores: Rui Patrício, com uma intervenção inacreditável quando se julgava haver na baliza um baluarte; João Pereira, com um agarrão suicida dentro da área quando se aguardava já a maturidade resultante da experiência; e Pepe, com mais uma cabeçada à sua moda, sancionada com excesso de rigor porque o central consta do “index” de todos os árbitros, quando se esperava que o “grande coração” do luso-brasileiro fora de campo lhe tomasse, enfim, conta da cabeça entre as quatro linhas. A jogar contra uma das mais fortes seleções do Planeta, três burrices consecutivas pagam-se caro.
Fizemos um mau Mundial, isso é certo. Mas fomos a única equipa afastada pela diferença de golos e, com o Equador, a melhor das que não se qualificaram. Somámos quatro pontos, a Espanha e a Itália – como Portugal, semifinalistas no último Europeu, ganho pelos espanhois – alcançaram três, a Rússia dois e a Inglaterra um, ou seja, quatro grandes potências estiveram pior. É assim, não se ganha sempre. Agora, temos de iniciar outro ciclo, procurar novos valores – mesmo com a aposta envergonhada nos escalões jovens – e apoiar Paulo Bento, o homem que já provou ser indicado para fazer o trabalho. O resto é só barulho.
Canto direto, Record, 28JUN14
Paulo Bento: o homem para fazer o trabalho
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