Alexandre Pais

Passos Coelho e as lamúrias

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Ninguém suficientemente desapaixonado poderá dizer que a devolução de rendimentos levada a cabo pelo Executivo vai acabar mal – e não faltam detentores da verdade que o garantam. Passos Coelho é um desses encarniçados arautos da desgraça governativa que lhe sucedeu.
Mas o ex-primeiro-ministro corre o risco de ser vítima da sua clássica determinação. Cinco meses depois de ter perdido as eleições que ganhou, Passos insiste nas lamúrias voltadas para o passado. Como se não existisse amanhã ou este redundasse, fatalmente, em eleições antecipadas e ele as ganhasse para governar outra vez com o mesmo programa. E se a geringonça se prolongar?
O eleitorado de centro, o tal que decide quem manda e quem fica à espera, quer – uma vez aqui chegados – que António Costa tenha êxito e o País avance. Mas precisa também de se sentir tranquilo quanto a uma eventual alternativa rápida. E se Passos Coelho ambiciona ser o intérprete dessa alternativa não pode continuar, ressabiado, a olhar para baixo e a mexer no telemóvel quando a conversa é com ele. Os eleitores não gostam de amuos e de visões passadistas. E mais: exigirão um discurso novo, num rosto distendido e optimista, que lhes abra a janela da esperança se a luz se apagar.
Observador, Sábado, 3MAR16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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