As SAD’s dos três maiores clubes portugueses e as empresas que eles criaram para diferentes áreas de negócio acumulam défices que ultrapassam os mil milhões de euros (ver info na pág. 5).
Esta situação, resultante já do recurso a todas, ou quase todas, as estratégias de engenharia financeira, e venda do que havia para vender, deixa aos “grandes” do futebol português o problema do país: um dia, vai ser preciso liquidar a dívida.
Sabe-se que os clubes têm ativos, mas conhece-se o obstáculo principal: teriam de vender todos os seus profissionais de futebol para pagar o que devem – e não chegaria – e, fazendo isso, deixariam de ser o que são. Portanto, essa “solução” não é possível.
Há também que ter em conta o valor das instalações, cada vez mais reduzidas aos espaços estritamente desportivos. Do que se duvida é que existam ainda alguns metros quadrados que não estejam nas mãos dos credores, ou melhor dizendo, dos bancos.
Perante este panorama, restaria o recurso a uma gestão espartana, que os clubes não estão em condições de adotar, já que a redução das despesas acarreta sempre cortes nos investimentos com um quase imediato reflexo nas receitas. E quando faltam as receitas entra-se numa espiral de perda de dimensão da qual dificilmente se sai. Estará isso a acontecer ao Sporting?
Fica-se assim com o último recurso nas mãos, o famoso salto para a frente, que consiste em apostar forte para obter resultados desportivos e depois – com o aumento das assistências, com a melhoria do pagamento das transmissões televisivas e com a venda de alguns jogadores – potenciar as receitas e tentar começar a diminuir o défice. Será esse o caminho por onde está a seguir o Benfica?
Uma gestão de compromisso, que não diminua demasiado o investimento, que venda dois ou três ativos e os substitua por outros de capacidade idêntica, graças ao trabalho eficaz da prospeção, pode resultar? Pode, e isso é o que tem feito o FC Porto. Mas para esse “milagre”, que nos últimos nove meses deu até em lucro – único, aliás, nos três grandes –, foram decisivas as receitas da Champions, que não existirão na próxima época.
Então o problema não tem solução? Tem, assobia-se para o ar e quem vier depois que veja lá isso. Afinal, os clubes seguem a vertigem do País.
Minuto 0, a publivar na edição impressa de Record de 3 junho 2010