Nos últimos anos, reforçou-se a ideia de que aumenta o fosso que separa os três grandes do nosso futebol dos seus concorrentes. E Manuel Machado, após ser despachado com “apenas” três secos no Dragão – e antes de ser despachado com mais três secos, agora em casa e pelo Tondela… – recorreu à teoria para justificar a derrota. Não que não seja um facto a enorme diferença de recursos financeiros entre os gigantes e os pequenotes, mas há que ter em conta que a proporção não é direta entre os investimentos efetuados e os rendimentos das respetivas equipas. Existe um pormenor importante que é o fator humano.
Desde logo porque os métodos de treino são hoje semelhantes e os “pobrezinhos” preparam-se com ferramentas técnicas idênticas às dos “ricos”. Depois, os jogadores que se sabem menos dotados utilizam os imponderáveis do futebol para, à custa de mais trabalho e de maior determinação, e naturalmente de alguma sorte – que não sopra sempre para o mesmo lado, como se sabe – conseguirem chegar, por vezes, ao nível dos predestinados.
Foi o que se passou no sábado, em Vila do Conde, onde a turma da casa, com uma dinâmica de jogo superior – e muitíssimo superior ao que se esperaria de um plantel de 6 milhões de euros – e com Tarantini e Pelé a construírem no meio campo uma parede de betão, fez a vida negra ao Benfica e aproveitou um azar de Lisandro para roubar os primeiros pontos aos encarnados – e perder os seus primeiros pontos, essa é que é essa.
Ao contrário do que poderia suceder pelo aumento do tal fosso, certo é que não se veem hoje no futebol português as cabazadas que o caracterizavam no passado, ou seja, a menor capacidade financeira dos emblemas mais modestos tem vindo a ser compensada com organização, trabalho, ambição e uma enorme dose de talento.
Terá de ser na área motivacional, em que já demonstrou mestria, que Rui Vitória deverá concentrar os seus esforços. Porque pese o valor do Rio Ave, e o mérito com que alcançou o empate, pareceu-me ter visto um Benfica uns furos abaixo do que pode e deve, um Benfica por momentos regressado ao tempo em que as camisolas ganhavam os jogos. E tanto tem Vitória combatido a sobranceria e a ilusão de que mais minuto menos minuto, mais penálti ou menos bola na trave, o triunfo é certo! Não é. E muito menos se ganharão desafios contemplando a grandeza dos 60 milhões de euros de investimento benfiquista em 2017/18, cantilena de machadês.
O parágrafo final é desta vez dedicado ao Real Madrid, que ontem – sem Sergio Ramos, castigado, e Varane, lesionado, o costume – começou a pagar pela partida de Pepe. Com Casemiro a central, a equipa “desconstruiu-se” e faltando Cristiano faltou o resto. É mais um exemplo de que os milhões não podem dispensar as cabecinhas pensadoras, muito difíceis de copiar.
Outra vez segunda-feira, Record, 28AGO17
Os 60 milhões de euros do Benfica não ganham os jogos
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