Aprecio particularmente aqueles comentadores que sabemos ao que vêm, com que partidos simpatizam, que religião professam ou que clube preferem. Não perco, por isso, colunas deste jornal como a que assinou aqui Carlos Barbosa da Cruz, na edição de quinta-feira, e que, essa em concreto, poderia subscrever.
O ilustre advogado defendia a firmeza do presidente do seu clube, o Sporting, no diferendo com os jogadores Rojo e Slimani, que recusam cumprir os compromissos que livremente assinaram. Correu-lhes bem o Mundial e julgam adequado fazer o que lhes apetece.
Compreende-se a frustração: podiam ganhar, qualquer deles, o triplo do salário com os contratos que lhes põem à frente. Admito até que lhes tenham feito, em Alvalade, explícita ou veladamente, promessas de que a saída lhes seria facilitada – se o Sporting visse também os seus interesses acautelados, como é óbvio.
Mas o processo é que não pode ser este, tratar o clube que os valorizou como um entreposto parasita, recusar treinar e até, como ontem o “Correio da Manhã” noticiou, “crescer” fisicamente para Bruno de Carvalho – e o confronto, no caso com Rojo, só não ter chegado a vias de facto porque houve gente de bom senso que se pôs no meio. O que é isto? Pode ser habitual no Terceiro Mundo, mas aqui, ainda que por vezes não pareça, estamos no Primeiro.
Sendo indiscutível que a razão está do lado do Sporting, os leões não ganharão totalmente o braço de ferro. É que não é possível integrar jogadores contrariados ou que criem problemas no grupo, e o exílio na equipa B baixaria drasticamente o valor dos ativos – renderiam bem menos em janeiro – além de que faria com que o treinador não dispusesse de duas peças nucleares, nem visse chegar quem as substituísse, o dinheiro está caro. E se a opção fosse aumentar-lhes os salários, depressa novos “rebeldes” surgiriam. Bruno de Carvalho enfrenta mais um teste de ferro e fogo.
Uma palavra para o FC Porto, que começou bem o campeonato e que promete ser, ligados os setores e criados os automatismos, um candidato muito mais forte, fortíssimo, uma grande dor de cabeça para Jorge Jesus e Marco Silva.
E um parágrafo final para outro teste, este à condição física “a 100%” de Cristiano Ronaldo: estão aí quatro jogos – e dois com o Atlético de Madrid, para a Supertaça – em apenas dez (!) dias. Como se irá portar o joelho esquerdo?
Canto direto, Record, 16AGO14
O teste de ferro e fogo de Bruno de Carvalho
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