Após desfolhar uma revista cor de rosa que apanhou à mão, uma amiga confessou-se, no Facebook, aterrada com o que viu e leu. É que só através desse exercício conseguiu ter noção da realidade social em que vive a maioria dos participantes nos concursos de “talentos”, hoje na moda.
Do pai ex-drogado, que esteve preso por ter partido o nariz à mulher, ou da avó entrevada que sustenta toda a família com a magra reforma, aos irmãos internados em orfanatos, que poderão ser resgatados em caso de vitória do concorrente, passando pelo tio traficante, que roubou os pais e os pôs na rua, o rol de misérias vai muito além da ficção.
Ao contrário da minha amiga, e talvez por ter trabalhado nesse país real, vejo o que lhe parece um fenómeno apenas com tristeza. Surpreender-me-á, sim, sempre, que pormenores escabrosos de vidas tão destruídas possam interessar a alguém e, pior ainda, que protagonistas da desventura justifiquem não só a atenção jornalística, como a vénia que constitui a doentia curiosidade de que são alvo. O mérito voltou-se para a desgraça.
Antena paranoica, 16JUN14