Alexandre Pais

O penoso exercício de Joacine Katar Moreira

O

Mulher, negra e ainda por cima gaga, a sua eleição para a Assembleia da República constituiu um punhal cravado no coração do mais quadrado partido português: o do preconceito. Daí que se entenda que Joacine Katar Moreira abuse do protagonismo para proclamar que conseguiu – como todos os de alguma forma diferentes podem conseguir, desde que vão à luta.
Acontece que um tribuno deve transmitir o seu pensamento e para isso necessita de um dom, o da oratória, dom que se exerce através de uma ferramenta: a voz. E a voz de Joacine chega-nos aos soluços, a sua mensagem não passa.
Estamos no início da aventura parlamentar e em São Bento suporta-se, com indisfarçável constrangimento, o penoso exercício das intervenções da deputada do Livre. Mas ela precisa da comunicação social, em particular da televisão, para que as ideias do político-emissor sejam captadas pelos recetores-eleitores. E em TV até a metade que vota é impiedosa quando lhe pedem tempo e paciência.
Na quarta-feira, nos longos minutos que Katar Moreira levou a dizer duas frases, quantos telespectadores resistiram, sem mudar de canal? E o pior é que finda a curiosidade da estreia, o problema agravar-se-á – não haverá espetáculo ou meias verdes que o resolvam.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 2nov19

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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