Alexandre Pais

O ódio absurdo de Cristiano Ronaldo

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Por ínvios caminhos, os lóbis, com o de Jorge Mendes à cabeça, os interesses comerciais e a FIFA elegeram justamente Cristiano Ronaldo melhor jogador do Mundo. Foi a segunda vez que o sucessor de Eusébio – mais no génio futebolístico do que, para já, no coração dos portugueses – conquistou a Bola de Ouro, depois de quatro triunfos consecutivos de Messi, que também não deixavam adivinhar outra coisa. Havia ainda a concorrência de um outsider, Frank Ribéry, que pode ganhar todos os títulos do Planeta que sempre ficará longe do brilho ímpar dos dois astros rivais.
Cristiano mereceu a distinção porque esteve, em 2013, uns furos acima do argentino, tanto no desempenho como nos golos obtidos, mas foram as três batatas que o nosso craque aplicou aos suecos, em novembro, que viraram os ventos definitivamente a seu favor, pois a fragilidade de Blatter, após a cena caricata docomandante, obrigou a FIFA a reabrir uma votação que já estava fechada – prova do que mais do que a razão e a verdade o que conta são os milhões que suportam o edifício e as benesses.
Sim, porque hoje, ao nível a que o Pantera Negra se alcandorou já não há Eusébios, ídolos sem gestão de carreira e que só a grandeza de terceiros permite que vivam com dignidade. O caso recente da zanga de Cristiano com a Pepsi é sintomático. Claramente ofendido pela marca global, depressa os advogados das partes acertaram a reconciliação, pois em tribunal só perderiam tempo e dinheiro, situação insuportável para duas máquinas voltadas para a faturação. A Pepsi patrocina uma iniciativa do CR7 e este desiste da queixa: assunto encerrado.
Mas enquanto aperta a mão à Pepsi, Cristiano insiste, e insiste há anos, em ações judiciais inúteis e sem sentido contra jornais e jornalistas – dezenas de jornalistas, arrolados às pazadas tenham ou não a ver com o que se trata – pela publicação de notícias irrelevantes de uma altura em que ele, mais imaturo, não era, fora dos relvados, o exemplo em que se transformou em campo.
Aliás, se na vida profissional Cristiano se mantém fiel ao rigor e ao trabalho redobrado que somados ao talento fazem dele um jogador melhor do que os seus pares, é na relação com os outros, exceto com os jornalistas – quem ao ouvido lhe alimentará esse ódio absurdo? –, que se verifica a grande mudança. E a repetição do seu empenho em atividades de natureza social – boleia que a Pepsi inteligentemente apanhou – demonstram que compreendeu a necessidade de devolver à sociedade uma pequena parcela da riqueza que ela lhe proporciona. Daí também a justiça da Bola de Ouro. Como futebolista, Cristiano está no apogeu, como homem, meteu entretanto pés ao caminho.
Observador, Sábado, 16JAN14

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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