Só o “L’ Équipe” francês, ao apelidar de “heroico” o português Tiago Machado, conseguiu encontrar o termo certo – no que aos feitos desportivos diz respeito, obviamente – para a decisão do ciclista, combalido após grave queda, de “fugir” da ambulância e regressar à estrada e à Volta à França… depois de a ter abandonado. Tiago lograra na véspera ascender ao 3.º lugar da geral e juntar assim o sonho do pódio ao sonho de participar no Tour, a mais prestigiada e mais dura prova ciclística do Planeta. Agora, a cada etapa, o nosso corredor vai-se afundando na classificação, mas esse pormenor, dadas as circunstâncias, já pouco significa: aguentar até Paris é o novo objetivo. Muito mais do que o treino e as características naturais, a força mental – que Tiago Machado provou possuir – é o que verdadeiramente define os campeões. A capacidade de sofrimento e a resistência à vozinha “amiga” que junto ao ouvido incita à desistência faz a diferença entre os que conseguem e os que não chegam lá. Foi essa fibra que fez de Joaquim Agostinho o melhor ciclista português de sempre – caía, levantava-se e ganhava etapas com braços e pernas em sangue. Não sei como será o futuro de Tiago Machado, mas acredito, e arrisco dizer que sei, que dias virão em que a sua classe e determinação o levarão à glória desportiva. Basta esperar para ver.
A sina de Iker Casillas começou a ser lida por José Mourinho, quando o sentou no banco e chamou Diego López. A chegada de Ancelotti a Madrid, ao contrário do que se esperava, não repôs a titularidade ao “capitão” do Real, em cujos ombros “heroicos” luziam os galões de campeão da Europa e do Mundo. No Brasil, exibindo também a faixa da conquista de La Décima, Casillas acabou de ajudar a espalhar ao comprido a seleção espanhola e agora a dúvida reside nas condições que terá para prosseguir uma carreira de top. Pelo sim, pelo não, os merengues vão contratar Keylor Navas – que tem menos um centímetro que Casillas… –, a maravilha costarriquenha, o que leva a “boa imprensa” de Iker a escrever que Diego López vai sair. Mas para ampliar a desgraça, que parece mais perto de Casillas que de López, um inquérito online da “Marca” define exemplarmente o que é a gratidão no futebol. Em mais de 100 mil inquiridos, quase 70% preferem Navas a Iker na baliza, ou seja, dizem ao ícone que está dispensado.
Canto direto, Record, 19JUL14
Heroísmo para Tiago Machado e ingratidão para Casillas
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