Na luta contra o desaparecimento, o antigo semanário Tal&Qual alterou, entre 1996 e 2002, a sua linha editorial tradicional, de modo a seguir de perto, demasiado de perto, talvez, a vida das figuras da TV. Por altura da crise na SIC, em 2001, com a saída de Rangel, houve um pico desenfreado nesse caudal noticioso, com pessoas que assumiam maior protagonismo a serem bombos da festa.
Na sequência de várias referências à sua vida profissional e pessoal, recebi um dia um email muito mal humorado de José Alberto Carvalho, que terminava proibindo o jornal de voltar a escrever sobre ele e de publicar qualquer fotografia sua… Como se fosse possível!
Creio que a partir daí fizemos pior, mas em vez do processo judicial a que recorreram alguns pavões, José Alberto ignorou as provocações e a tensão esfumou-se. Meses depois, encontrámo-nos num tribunal, como testemunhas de querela alheia, e quando ficámos sozinhos na sala ele disse-me, sorridente: “Ora cá estamos nós, alguma vez teria de ser…” E desenvolvemos uma conversa de circunstância.
Foi um dia feliz. Não que temesse pela vida, mas por descobrir, ao invés de um peito cheio de vento, um homem com fair play. Recordei-me desse episódio nas semanas difíceis em que José Alberto Carvalho acompanhou a dor de Judite Sousa, com quem trabalha, e perdeu a seguir um amigo, Emídio Rangel – momentos duros em que a qualidade humana se revela e em que saltou à vista a bondade na acção, a superioridade intelectual e o sofrimento genuíno. Já era e fiquei mais: seu admirador para o resto da vida.
Parece que foi ontem, Sábado, 11SET14