Num debate televisivo sobre futebol, um antigo jogador mediano irritou-se e acusou dois dos “colegas” que o contraditavam de “nunca terem entrado num balneário”. Ele, que é semi-analfabeto – diz “tênhamos” e “fáçamos”… – pode fazer comentários, mas quem não jogou à bola (julga o rapaz) não devia ser autorizado a pronunciar-se sobre os jogos e os seus intérpretes. Coitado.
Se essa “luta de classes” é entendível à luz da ignorância e da intolerância de um caráter enviesado, parece-me menos aceitável que oficiais do mesmo ofício, com telhados de vidro, atirem pedras uns aos outros.
Passo a explicar. O Belenenses, treinado por um técnico competente e pragmático, segue em sexto lugar no campeonato, com mais dois pontos que o sétimo, o Estoril. Como se fosse pouco, não aproveitou totalmente o facto de o Sporting se apresentar no Restelo, para a Taça da Liga, com uma segunda formação, e atuou de início sem cinco ou seis dos habituais titulares, lançando também gente jovem e com qualidade. A perder por 2-0, deu a volta ao marcador e venceu a partida, com rasgados elogios da crítica.
Na edição de Record de dia 12 deste mês, após a derrota dos azuis do Restelo no Dragão, o professor Neca afirmava, destemido, que o sexto classificado da Liga tinha “um plantel muito limitado”. E depois de referir que Lito Vidigal havia evitado “outra hecatombe” – após os 7-1 de Braga – Neca sublinhava, para que não restassem dúvidas, não apenas a limitação, mas mesmo a “baixa qualidade do plantel” do Belenenses.
Não sei o que dirá Neca das equipas que se encontram entre o sétimo e o décimo-oitavo lugar, pois gastou todas munições a arrasar os jogadores de Belém. E só o posso compreender por uma razão: treinou sempre plantéis de altíssima qualidade e é, como o outro, um mestre dos balneários.
Canto direto, Record, 26JAN15
O destemido professor Neca
O