Alexandre Pais

O desafio de Marcelo

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A descida da casa dos pais até à Assembleia sem a presença dos repórteres – ainda impreparados para antecipar a criatividade do novo Presidente – os filhos no anonimato do passeio público, enquanto ele subia, sozinho, a rampa do Palácio de Belém, ou o boné na cabeça, a caneta na boca e a manta nas pernas, no concerto da Praça do Município foram sinais de que o mandato de Marcelo Rebelo de Sousa poderá iniciar a reconciliação dos portugueses com a sua classe política.
Em São Bento, as imagens das ruas quase desertas e dos poucos interessados no espectáculo da tomada de posse, enxotados para o outro lado da rua onde finda a longa escadaria do Parlamento, ficaram como ilustração de um divórcio trágico. Essas imagens foram menos desoladoras no Porto, onde Marcelo foi recebido de forma espontânea e entusiástica, perante os calafrios de uma segurança que muito vai ter de sofrer.
Em Portugal, os partidos transformaram-se em clubes fechados e escolheram os legisladores que criaram a teia da distância que protege o seu hermetismo. Abrir a política à sociedade é, para já, o mais duro desafio que se coloca ao Presidente. Mas conseguirá a sua acção compensar as más práticas dos donos do sistema democrático?
Observador, Sábado, 17MAR16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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