Já não havia paciência para o “folhetim Cavani”, que o Benfica alimentou para lá do que devia, com uma única vantagem para o respeitável público: fazer baixar o ruído, igualmente insuportável, da transferência, essa consumada, de Cristina Ferreira.
De facto, o clube da Luz estendeu-se demasiado nas “negociações”, o que gerou uma onda gigantesca de expetativa nos seus adeptos. Depois, tudo se esvaziou numa maré baixíssima de deceção, que só não penalizará fortemente Luís Filipe Vieira porque as atenções estão concentradas em Jorge Jesus e na reconstrução da equipa, e porque se olha para o lote de alternativas à liderança e até trememos – nós, que fará os benfiquistas.
Para uma estrutura profissional, a explicação de que o prolongamento das conversas com o “entorno” do uruguaio se justificou pelos imensos benefícios que traria a sua contratação parece uma desculpa esfarrapada. Não é preciso perceber muito de negócios para se ver que o interesse desmesurado do clube no jogador era por este utilizado para aguçar o apetite de outras tesourarias e, em simultâneo, para inflacionar o seu preço.
E não é preciso perceber muito de futebol para se entender que gastar cerca de 50 milhões de euros em três temporadas, com um avançado de 33 anos e quatro (!) golos marcados na última Ligue 1, seria um investimento ruinoso. Ainda que ficando a pagar-lhe aos bochechos até ele andar de bengala, como se não bastasse tendo pela frente a fortíssima queda das receitas de bilheteira.
Se não se der uma reviravolta – e não faltam “filmes” desses – o Benfica perde pouco ou nada com a não vinda de Cavani, já que poderá contratar outros jogadores de qualidade, menos milionários e menos acomodados, mais ambiciosos e mais capazes de corresponderem às exigências de um treinador com quem é necessária uma permanente capacidade de superação. E quanto ao futebol português, direi que também não fica mais pobre por isso. Edinson Cavani não é Iker Casillas. Que vá para o Atlético de Madrid ou para outro perdedor que o queira, viveremos cá bem sem ele.
A velha maldição que diz que no fim ganha sempre a Alemanha voltou a impor-se ontem, na Luz, com os de Munique a travarem as “motas” de Paris e o PSG a continuar fora do patamar dos efetivamente grandes emblemas do futebol europeu. Se fosse a Mbappé, não hesitaria: Bernabéu comigo!
Depois de ter sido o pior jogador em campo na final da Liga Europa, gostava de perguntar a Lautaro Martínez que assuntos pretende tratar em Camp Nou… Só se for fazer companhia a Messi nos treinos, antes de ter um destino semelhante ao de Coutinho e de Dembelé.
E a propósito de Messi: sendo eu um dos que gostariam de o ver em Itália – para se prolongar um pouco mais o mítico confronto com CR7 – direi que não acredito que deixe o Barça. Artista inigualável, Messi não é, como Cristiano, um cidadão global. Longe de Barcelona, não conseguiria respirar. Já não lhe pertence o sangue que lhe corre nas veias.
Um brevíssimo mas sentido parágrafo final: parabéns, Miguel Oliveira!
Outra vez segunda-feira, Record, 24ago20
O Benfica viverá bem sem Cavani
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