Fundado em 29 de Maio de 1975, mesmo às portas do Verão quente, o semanário Tempo, se não tivesse encerrado em 1990, teria agora 41 anos. Lançado para dar combate à esquerda dominante, era dirigido pelo jornalista e administrador Nuno Rocha, também conhecido por Nunocha e com quem me cruzei no Diário de Lisboa, entre 1972 e 1974.
O Nuno era um homem controverso e autoritário, um conservador bem falante e bem trajante, que sofreu particularmente com a alteração de regras e de valores que resultou do 25 de Abril. Sinal disso foi a circular que dirigiu às mulheres da redacção, em Janeiro de 1980, e cujo teor é elucidativo. Ei-lo.
“Minha Amiga:
Costuma dizer-se que Novo Ano, vida nova. Quero dizer-lhe que a Administração não está muito satisfeita com as funcionárias do nosso jornal. O nível da sua apresentação tem baixado muito e nós não vamos deixar que assim continue.
Venho pedir-lhe por isso que se apresente no jornal todas as manhãs bem arranjada. Os nossos salários são altos e não se justifica que cada um apareça como muito bem entende e a maior parte das vezes denunciando um certo desleixo no vestir e no arranjo geral. O jornal tem uma imagem exterior que deve ser defendida.
Não consentiremos assim que as nossas colegas se apresentem no trabalho com os cabelos sujos, com roupa sem gosto e elegância, por maquilhar e sem pinturas. Consideramos, aliás, tal comportamento uma falta de respeito pela empresa e por todos os que aqui trabalham.
Resolvemos, dentro desse princípio – no qual seremos intransigentes – ter um prémio limão em cada mês para a colega mais mal arranjada do jornal.
Poderá acontecer, porém, que o prémio nunca seja atribuído. Para isso basta que todas se apresentem no emprego vestidas com dignidade (não consentiremos calças Levis ou blue jeans) compatível com a nossa posição de grande jornal nacional.
Espero nunca lhe dar o prémio limão… Bom Ano e vida nova”.
Foi dura a luta, Nuno, mas pelo que se vê 36 anos depois, a vida nova é, afinal, o velho desleixo de sempre – uma guerra perdida.
Código de vestuário: RAI proíbe decotes, vestidos justos e minissaias
A RAI, estação pública italiana de televisão, divulgou este mês um novo código de vestuário e de maquilhagem que condiciona a forma como as suas apresentadoras – os profissionais masculinos não são visados – surgem aos telespectadores. A partir de agora, ficam banidos do ecrã os decotes, os vestidos justos, as minissaias e os saltos muito altos, cores como o roxo e alguns castanhos, e ainda os adereços espalhafatosos, como os brincos de argolas. Ao contrário de Nuno Rocha, que exigia por decreto, em 1980, uma apresentação de qualidade, a RAI, em 2016, decreta o fim da qualidade a mais…
Parece que foi ontem, Sábado, 16JUN16