Sinto-me dividido quanto à contratação de Nuno Espírito Santo pelo FC Porto. Por um lado, alinho com a estranheza de alguns – e a falta de entusiasmo de quase todos – pela escolha de um técnico de currículo modesto, arrancado ao desemprego e ferido pela calamitosa passagem pelo Valencia, embora, verdade se diga, os seus sucessores não tenham feito melhor. E também pela velha teoria de que os guarda-redes nunca deram grandes treinadores, como Lopetegui confirmou.
Por outro lado, parece-me adequada a opção por um homem da casa, amarrado para a eternidade ao conceito “somos Porto” e com capacidade, como disse António Oliveira, para “reinventar o FC Porto” e “devolver a mística ao clube”, e para tirar, penso eu, o máximo partido dos jogadores sem os pôr contra si – um clássico que já arrastou para a cova tantas sumidades técnicas. E ainda por alguma arrogância a marcar uma relação difícil, a de Nuno Espírito Santo com a comunicação social, “qualidade” que a cúpula portista sempre valoriza.
Claro que a questão é mais profunda, meterá uma administração dividida, a submeter-se ao líder, e um “reaparecimento” de Jorge Mendes na quinta do Dragão. Veremos até que ponto ajudará o empresário a substituir um plantel de egocêntricos por formigas talentosas e ávidas de jogar em equipa. Sem isso, continuará o “não somos Porto”.
Nota final: fiquei feliz pelo regresso de José Couceiro ao trabalho e pela rápida “reabilitação” de José Peseiro por parte do Sp. Braga, e enjoado com as críticas de Figo a Pinto da Costa – há que ter muita lata para esperar que alguém esteja na mó de baixo para lhe cair em cima. Que feio.
Canto direto, Record, 6JUN16
Nuno, o reinventor
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