Alexandre Pais

No tempo em que il Mago passou pelo Belenenses

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O mais relevante dos fatores que caracterizam um grande treinador de futebol é a sua capacidade para fazer magia: com jogadores menos cotados, conseguir vencer as melhores equipas do Mundo. Ainda hoje, por muito que os resultados globais favoreçam Guardiola, o maior mérito de Mourinho foi ter conseguido travar a hegemonia do Barcelona de Pep, talvez o melhor onze da história.
Pensei nisso quando vi, há precisamente um mês, no Estádio Bernabéu, o Barça de Ernesto Valverde ganhar (3-0) ao Real Madrid, o mesmo RM que em agosto triunfara em Camp Nou (3-1) na primeira mão da Supertaça espanhola. Quatro meses bastaram para que Valverde reconstruísse a equipa e banalizasse os madridistas, o que me leva a outra recordação: a do treinador ítalo-franco-argentino Helenio Herrera, que no final da década de 50, ao leme do Barcelona, pôs também fim ao domínio blanco da época, muito por il mago ter recorrido a métodos inovadores de preparação e transmitido aos jogadores uma mentalidade ganhadora. Nos confrontos com o Real Madrid, o Barça de Helenio Herrera saiu vencedor… 14 vezes! Valverde já soma seis.
Punido em Espanha por ter assinado pelo Barça quando representava o Sevilha, HH veio para Portugal treinar o Belenenses, em 1957. Acompanhei com entusiasmo o seu trabalho de seis meses entre nós, admirei o discurso arrojado e a liberdade que dava aos jogadores criativos – inventou logo um craque em Belém, o Vítor Silva – e o seu gosto pelo futebol de ataque: vi, no Restelo, uma goleada histórica (9-3) do Belenenses ao Sp. Braga, com 6 golos de Matateu. Bons tempos!

No cemitério de Veneza, uma placa recorda Helenio Herrera
Parece que foi ontem, Sábado, 18JAN18
VITÓRIA NA LUZ À CHEGADA. A estreia de Helenio Herrera à frente do Belenenses, a 3 de novembro de 1957, poucos dias após chegar a Lisboa, não podia ter sido melhor. É que os azuis foram à Luz inflingir ao Benfica a primeira derrota em jogos oficiais no novo estádio (1-2), com Matateu a marcar o primeiro golo – quase sobre a linha de fundo, meteu a bola por uma nesga entre Costa Pereira e o poste – e todos os seus companheiros motivados pela presença do feiticeiro no banco.

 

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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