Alexandre Pais

No tempo em que a RTP era puritana

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“A grosseria só começa quando começa a delicadeza; e o impudor desde que o pudor exista” – Fernando Pessoa

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O número 2 da Élan foi publicado em Fevereiro de 1987
Há 28 anos, surgia nas bancas portuguesas a revista Élan, que veio  agitar o conservadorismo editorial dos anos 80. Os seus defensores estavam longe de entender que a nova publicação, adiantada no tempo, constituía apenas um sinal do que estava para chegar: uma mudança de mentalidades que rapidamente faria a Élan parecer uma edição soft, cujo target não iria além dos adolescentes atrevidos mas ingénuos.
A revista começou por recorrer a modelos profissionais e a grandes fotógrafos, tentando atingir um nível que depressa se percebeu ser impossível de manter. Logo no número 2, ousámos fazer uma capa em que se via um seio nu, na sequência de uma produção de Ana Maria Lucas com Joanne, uma mulher belíssima, que foi fotografada por João Raul – os melhores num trabalho magnífico.
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A divulgação de capa, pela RTP, só foi possível com esta inclinação, que permitia esconder o peito
 
Como tínhamos um acordo de permuta com a RTP, fizemos um spot publicitário, informativo, discreto e apenas com a reprodução da capa. Mas na Avenida 5 de Outubro a puritana RTP entrou em transe e fomos obrigados a repetir o spot, inclinando a capa de maneira que não se visse o peito do modelo. E a partir daí, lá se foi a permuta… A própria Joanne – que tinha assinado um contrato impeditivo de uma futura utilização da sua imagem mas que era omisso quanto à promoção – ficou em choque com a divulgação televisiva e sentiu dificuldade em enfrentar o preconceito vigente.
O Mundo girou e a sociedade mudou muito, desde 1987. Se calhar, escusava era de ter mudado tanto.
Parece que foi ontem, Sábado, 19FEV15
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O contrato com os modelos contemplava apenas uma publicação e era conferido quase à lupa
 

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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