Alexandre Pais

Nem todos pela lei e pela grei

N

O homem era alto e encorpado, sem dúvida, e embora na notícia do seu caso tenha havido uma inesperada poupança de “alegados” não me custa a crer que se tratasse de um assaltante de supermercados, um bandidozeco.
Admito até que a tranquilidade do criminoso algemado fosse aparente, que quisesse unicamente armar-se em anjinho, e que tivesse despejado sobre os guardas ameaças de morte, ofensas às famílias e impropérios vários. Tudo do mais provocador pode ter acontecido naquela rua de Olhão.
O que já não aceito é o que vi depois: dois, quatro, seis militares fardados a acorrerem ao canto onde tinha sido confinado o detido para o agredirem. Uma ação reprovável não só por ser um ato cobarde, mas por constituir igualmente um crime numa sociedade democrática.
Espero que as imagens divulgadas primeiro nas redes sociais, e a seguir na TV, mereçam da GNR não só o banal inquérito de rotina – o que nós vimos não pode ser apagado – mas uma punição exemplar. Os guardas de que nos orgulhamos são pessoas de bem, como o corajoso e injustiçado Hugo Ernano ou o já esquecido Carlos Caetano, abatido à traição, ainda há dias, em Aguiar da Beira. Desses, precisamos muito. Dos que batem nos detidos, não – é pô-los a andar.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 5NOV16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas