Uma vez mais a tragédia anual dos incêndios é utilizada como arma para os políticos se agredirem uns aos outros. Conversa para papalvos, já que qualquer pessoa informada, ou simplesmente avisada, deixou de se impressionar com essa esperteza saloia.
Ainda ontem, o ministro Rui Pereira, debaixo do fogo cruzado de acusações absurdas, vinha a terreiro minimizar os estragos, afirmando que a área ardida este ano é inferior às de 2003 e 2005. Olha que bom, é inferior, como se as labaredas que apagam do mapa os parques naturais e deixam o país careca pudessem ser menos destruidoras pelo facto de ter havido, um dia, umas ainda mais brutais.
Do lado oposto, também já não há paciência para tanto aproveitamento demagógico de um drama que só se resolveria com um bombeiro atrás de cada árvore. A aposta na prevenção, que é o que verdadeiramente falta, apenas seria possível se houvesse dinheiro. E como não há, governo algum terá capacidade para resolver o problema. Talvez com um toque de perlimpimpim…
No meio desta batalha torpe, tenho pena dos bombeiros, que de vez em quando não escapam à fúria da crítica indiscriminada e levam por tabela. A injustiça é tanta que chego a lamentar que o seu sentido do dever e da solidariedade lhes não permita fazer o que alguns idiotas mereciam: que deixassem arder.
Desta pequena tribuna de um diário “desportivo”, seja-me permitido enviar hoje um sentido abraço e um profundo agradecimento a todos os bombeiros de Portugal. Com votos de que esses heróis, não deixando o país arder, deixem a estupidez a falar sozinha.
Fogo curto, publicado na edição impressa e Record de 18 agosto 2010