A troca de acusações entre sacos da mesma farinha tornou-se pornográfica: a tragédia dos incêndios, com o seu cortejo de morte e destruição, faz com que, havendo poucos inocentes, os culpados se apontem uns aos outros para esconderem as misérias próprias.
Cientistas e comentadores, estes divididos entre os relativamente sabedores e os totalmente ignorantes, apontam, para a desgraça, causas múltiplas que vão de teses profundas sobre desertificação à simples estupidez. É um penoso menu, que nada adiantará aos mortos e de pouco servirá aos vivos, que jamais disporão de todos os meios necessários para modificar radicalmente o que não funcionou.
E de tudo o que não funcionou, destaco o que mais me aflige: a nomeação, para a Proteção Civil, de gente de confiança, feita este ano pelo Governo de António Costa, para substituir a gente de confiança que lá deixou Passos Coelho – lembram-se do grande incêndio do Caramulo e dos nove mortos de 2013?
É a chamada confiança clientelar, em vários casos a colocação em cargos importantes de filhos dos partidos, uns esfomeados sem carreiras profissionais de relevo, que se licenciaram a martelo e que pouco sabem de fogos e menos ainda de liderança. Se a nova lei, que vai meter o CReSAP na escolha, não servir para filtrar a incompetência, ela continuará a matar.
E como se não bastasse, não falta ainda quem admita que o CReSAP também possa estar todo minado…
Observador, Sábado, 26OUT17
Não nos iludamos: as incompetências vão continuar a matar
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