Alexandre Pais

Não chegámos prà Islândia… nem prò Butão!

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Tenho um amigo que vive à frente do tempo: ele sabe sempre o que fazer para resolver um problema antes de a questão se colocar. Posso pôr-me enfim ao seu nível e dar o meu contributo para a hipótese de termos de despedir o engenheiro do penta, caso levemos, já no sábado, em Paris, uma cabazada das antigas dos austríacos – que vão ter de se esfarrapar todos depois da derrota com a Hungria. É que mal terminou a partida de Saint-Étienne, e como a RTP cortou a transmissão, mudei para a Sport TV a tempo de ouvir o dr. Sabrosa explicar com que parte do pé devia Cristiano ter feito o remate com que se finou o jogo. Ora, um homem que sabe até ensinar CR7 a bater livres é o selecionador de que iremos precisar.
Pai Natal. Como se não bastasse o otimismo inveterado do Presidente e do primeiro-ministro com essa história da Seleção em “grande forma”, ontem foi a vez de Humberto Coelho aparecer com a mesma cantilena aos jornalistas: Cristiano Ronaldo, assegurou, “está em grande forma”. Claro, claro, e eu sou o Pai Natal.
Panos quentes. É esta repetição bacoca de confiança que vai resultando com os crédulos, que vivem de fantasias. Mas quando um jogador teve no seu clube um penoso fechar de época, chegou ao Europeu com mais de 50 jogos nas pernas, “mermado” e “com moléstias” – seja lá isso o que for – como vai rezando a imprensa espanhola, a partir de janeiro, e a sua preparação se reduziu, nos últimos meses, aos panos quentes necessários à contenção da dor, o que sabemos é que não pode estar em forma e muito menos em grande.
Confrangedor. Mesmo que Cristiano tenha, como tem, uma indesmentível capacidade para conhecer os seus limites, contornar as debilidades físicas e manter-se competitivo a 50% – o que basta muitas vezes para as despesas mas que é já insuficiente para a fase final de um Europeu – a verdade é que só pudemos ver ontem a sua sombra, um Cristiano a 20%, um nível demasiado baixo para poder ser uma mais valia para a equipa e uma ajuda para os companheiros. Conseguirá ainda recuperar parte da sua melhor condição ou teremos a cada nova entrada em campo a confrangedora visão do génio que se arrasta?
Recorde. Não passemos, de qualquer modo, da euforia saloia à depressão esquizofrénica. Atentemos antes na perspetiva do “enciclopédico” @2010MisterChip, no Twiter: ao empatar, ao cabo de 21 jogos sem esse resultado, a Seleção não conseguiu bater o atual recorde mundial, de 35 jogos sem empatar, da sua congénere do Butão, 186.ª do ranking FIFA. Isso é que foi pena.
Contracrónica, Record, 15JUN16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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