Alexandre Pais

Nani errou mas Peseiro exagera

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José Mourinho perdeu os jogadores, ou boa parte dos que contam, e parece missão impossível reverter a situação do Manchester United, que à sétima jornada da Premier está a 9 pontos dos líderes Manchester City e Liverpool. Ótimo momento o que se avizinha para aqueles inimigos de Mou cuja existência se resume a manter a esperança de o ver falhar… E quase o mesmo se passa com Leonardo Jardim, que paga, com o Monaco na zona de descida da Ligue 1, os 400 milhões de euros de lucro que a sua gestão desportiva já rendeu aos acionistas do clube. O que é o futebol!
Mas hoje quero falar-vos de outro treinador, José Peseiro, e para isso tenho antes de me focar em Nani e na sua realidade: tem uma excelente carreira e passou ao lado de outra no patamar dos melhores futebolistas do Mundo. Não o conheço, embora tenha, ao longo dos anos, formado uma ideia sobre ele – julgo tratar-se de uma boa pessoa que tem, ocasionalmente, gerido mal alguns comportamentos e, demasiadas vezes talvez, o percurso profissional. Desde que saiu de Manchester, foram emblemas e impedimentos físicos a mais e falhanços sucessivos. O seu afastamento do último Mundial – aos 31 anos e com 112 internacionalizações – constituiu o corolário do período de pré-decadência que atravessou.
Feito o “reset”, o regresso a Alvalade abriu novos horizontes e relançou-lhe a carreira, e a situação complexa que veio encontrar em Alvalade, somada à experiência e ao peso indiscutível do currículo, fizeram-no capitão de equipa – mais do que justo!
Então, com a época a fluir relativamente bem, para ele e para o Sporting, como entender a obtusa reação à substituição em Braga, que levou Peseiro aos arames? Se quer aproveitar esta rara boleia do relógio do tempo, voltar à Seleção e garantir um final de carreira feliz onde pertence, Nani vai ter de travar de vez o seu pior inimigo: o Nani impulsivo que sempre teima em tornar a fazer o que não deve.
Mas nesta história José Peseiro também precisa de parar para pensar naquilo que de facto é: um treinador mal-amado e a prazo, seja lá qual for esse prazo. O Sporting está ainda demasiado ferido para suportar que quem foi contratado para unir alimente mais problemas. Nani errou, ponto. E Peseiro deixou-o nu na praça pública, na conferência de imprensa antes do desafio com o Marítimo, pelo que não podia ter perdido, como perdeu, a oportunidade de encerrar o assunto de forma generosa nas declarações feitas após a vitória de sábado. Exagerou e agora ou compreende que o seu papel em Alvalade não é o do “todo poderoso” ou irá em breve pagar por isso. É dos livros: atirando-lhes gasolina, corre-se o risco de as chamas virem para cima de nós…
Parágrafo final para lembrar aos acérrimos admiradores de Cristiano Ronaldo, grupo de que faço parte, que ele perdeu o The Best não por qualquer “perseguição” mas porque – como se viu pelos lugares secundários de Messi e de Neymar – o Planeta gira e as coisas mudam. É que o prémio não é atribuído por gente sem rosto e sim pelo voto livre dos selecionadores e capitães de todas as seleções do Mundo, e de jornalistas dos seus países. Não há cabala possível, aquela votação não mente, terminou um ciclo, a vida é o que é. Olhemos antes para Madrid, onde Bale, o “sucessor designado” de Cristiano, já meteu baixa, Lopetegui iniciou o delírio e se contam os dois (!) golos do Real em quatro jogos. E que cântico se ouve no Bernabéu num vídeo viral com data desconhecida? “Ronaldo… Ronaldo… Ronaldo…” Pois é, tarde piaste.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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