Tinha de ser José Mourinho a cumprir o sonho do veteraníssimo (36 anos) Javier Zanetti: voltar a jogar uma final europeia, 12 anos depois de ter conquistado o último título europeu do Inter, a Taça UEFA. A partida decisiva realizou-se em 1998, no Parque dos Príncipes, em Paris, e a equipa de Milão venceu a Lazio, por 3-0, com golos de Zamorano, Ronaldo e… Zanetti.
Mourinho consegue assim a sua terceira final europeia e a nona do Inter, quinta da Taça/Liga dos Campeões – com duas vitórias, uma em 1963-64, sobre o Real Madrid, e outra, na época seguinte, sobre o Benfica –, depois de duas lições tácticas nos desafios frente ao Barça, ambas abençoadas pela sua boa estrela, sim, porque se não há campeões sem sorte, sorte é o que nunca tem faltado ao Speciale.
O jogo da consagração, marcado para 22 de Maio, no Santiago Bernabéu, tem ainda outras curiosidades, como a de ser a segunda final em que o Inter vai encontrar uma equipa alemã – em 1996-97, perdeu a Taça UEFA para o Schalke 04, que o derrotou, no desempate por penáltis, no próprio estádio de San Siro… – ou de Mourinho ir defrontar, em Madrid, o Bayern de Munique, treinado por Louis Van Gaal, o técnico que substituiu Bobby Robson no Barcelona e com quem o português chegou a trabalhar.
Mas o êxito de ontem teve uma componente psicológica fortíssima, com Mourinho também aí ao seu melhor nível – a presença de Luís Figo no banco, com todos os assobios que sobre ele recaíram, constituiu uma provocação insuportável para os da casa –, levando até o presidente Joan Laporta a jogar o seu jogo, classificando-o de “psicólogo de pacotilha”. Pois.
O”happening” foi igualmente aquele que se esperava, com José Mourinho a terminar a sua “performance” a correr pelo relvado, de dedo espetado, oferecendo a Florentino Pérez o bilhete postal que faltava para acabar com as últimas resistências e contratar o único homem que parece ser capaz de pôr os madridistas a rentabilizar o investimento. Afinal, a perfeição existe.
Minuto 0, publicado na edição impressa de Record de 29 abril 2010