Alexandre Pais

Mourinho e Figo: há uma luzinha que brilha… só para eles

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Não faltam por aí
peitos cheios de vento
esvaziados de forma 
humilhante

Não compreendi a renúncia de Luís Figo a jogar mais um ano no Inter, repetindo assim, em Milão, os seus 5 anos de Barcelona e igual período em Madrid. Para mais, numa época em que se previa que Mourinho iria apostar fortemente na Champions – e não fez a coisa por menos, como se sabe, pois está até à beira de um “triplete”.

É verdade que Figo já ganhara tudo, quatro títulos de campeão em quatro épocas no Inter, mais uma Taça de Itália, a juntar ao que já conquistara em Espanha e que foi também tudo: Liga, taça e supertaças (uma europeia), e até a própria Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes, pelo Real Madrid, em 2002.

Não compreendi mas fiquei a compreender esse arrumar de botas que me parecia precoce – apesar dos 36 anos do jogador, na altura – após a histórica jornada da noite de quarta-feira, em Barcelona. Se é difícil encontrar alguém que reúna o talento, a sorte, o amor ao dinheiro, o conhecimento das artes e dos truques da bola – e o tamanho das outras bolas mais pequeninas – que constituem o poderoso arsenal de José Mourinho, arranjar logo dois dessa estirpe para sentar, lado a lado, no mesmo banco e sob o fogo cerrado do inimigo, unidos pela mesma estratégia e determinados em alcançar o mesmo objetivo, como vimos agora em Camp Nou, isso então é verdadeiramente inacreditável.

Na vida e no mundo o que não falta são exemplos de peitos cheios de vento, que se esvaziaram do modo mais ridículo e mais humilhante. O “bluff” paga-se, na quase totalidade  das ocasiões, de forma amarga e que não permite retorno ou sequer arrependimento.

Meter a cabeça no cepo, pondo em risco não só muitos milhões de euros, como o futuro de alguns dos maiores jogadores do Planeta, e retirá-la depois, intacta e vencedora, só está ao alcance dos predestinados. Há uma luzinha que brilha lá em cima só para eles, é o que é.

Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 1 maio 2010

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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