Logo que Domingos Paciência se atirou aos “médicos, fadistas e carpinteiros” que opinavam sobre a situação no Sporting, para a qual objetivamente contribuía, e iniciou a sua cruzada contra os jornalistas – ele, que tem beneficiado sempre daquilo que se designa por “boa imprensa” – se compreendeu que os seus dias em Alvalade estavam presos por arames. E ao vermos Carlos Barbosa bater com a porta mais evidente se tornou que se aproximavam dias de tamanha tormenta que a fragilidade emocional do treinador não lograria suportar.
Quando pessoas que mal se conhecem se reúnem num projeto, podem acontecer muitas coisas, mas uma de duas é fatal como o destino: ou uma solidariedade milagrosa resultante do “cimento” que os êxitos sempre constituem ou, em caso de fracasso, a entrada a matar da primeira legião da intriga e da conspiração, que rasga o saco em que os gatos se matam uns aos outros. Domingos acabou vítima dos seus fantasmas e dos seus erros, mas também da inevitável calúnia, de que é prova a miserável atoarda que o dava em contactos com o FC Porto.
Domingos tem qualidade e tem qualidades, e continuaremos a ouvir falar dele. De qualquer modo, é já passado em Alvalade, mais um técnico capaz que foi trucidado por uma máquina que sonha com vitórias e não perdoa aos vencidos – mesmo aos que não soube, não quis ou não conseguiu proteger nas horas de tempestade.
É a hora de Sá Pinto, um nome da casa e cuja primeira preocupação deve ser a de limpar de vez a imagem de um homem que ferve em pouca água, a de deixar à porta de casa a truculência que só complica e a violência que nada resolve. Depois, terá então o trabalho mais difícil porque não depende apenas dele: o de tranquilizar uma equipa que joga sobre brasas e devolver-lhe a confiança e os níveis mentais dos primeiros meses da época.
Finalmente, chegará a fase mais interessante e também aquela que liderará como peixe na água: a de pôr os jogadores a atuar “à Sá Pinto”, com atitude, empenho e sacrifício. Um sacrifício que, lembro-me bem, atingia muitas vezes as balizas do impossível. Agora, o sucesso dependerá muito da frieza da sua cabeça. Missão possível.
Minuto 0, crónica publicada na edição impressa de Record de 15 fevereiro 2012