Alexandre Pais

A Mexicana faz 70 anos e resiste

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Foi a 28 de dezembro de 1946 – completam-se para a semana 70 anos – que abriu, no n.º 30 da Avenida Guerra Junqueiro, junto à Praça de Londres, aquela que viria a ser uma das míticas pastelarias de Lisboa: a Mexicana. Inicialmente designada por Confeitaria Mexicana, pertencia aos contrutores civis de Tomar que haviam construído o prédio. Recorro a restosdecoleccao.blogspot.pt para acrescentar que no início dos anos 60 a casa foi alvo de profunda reforma e ampliação, cujo projeto esteve a cargo do arquiteto Jorge Ferreira Chaves. Criou-se nessa altura a esplanada e um novo salão de chá ao fundo do estabelecimento. Chaves integrou no seu trabalho elementos decorativos concebidos por João Câmara e Mirya Toivolla, um vitral de Mário Costa, dois painéis cerâmicos de azulejos assinados pelo artista plástico Querubim Lapa – falecido em maio último, aos 91 anos – e mobiliário desenhado por José Espinho e fabricado por Móveis Olaio.

Frequentei a nova Mexicana logo após essa reabertura, pois os meus pais trabalhavam no prédio de gaveto em frente, o 58 da Avenida Manuel da Maia, onde funcionavam os Serviços Médico-Sociais, que antecederam a Segurança Social. Como ainda não era fã dos cafezinhos, comia bolos de arroz e pastéis de nata…
Continuo fiel à Mexicana, embora não aprecie as alterações recentes. Mas gosto de já não ver por lá um capataz mal encarado que humilhava os empregados a toda a hora e à frente dos clientes – um pesadelo que terminou. A vida muda, é verdade, e bem vistas as coisas nem tudo o que é novo é pior.

Avenida de Roma: fecho de cafés históricos muda o rosto da capital
Outrora zona de concentração de grandes pastelarias e cafés da capital, a Avenida de Roma é hoje uma via de saudade. As vizinhas e concorrentes Roma e Capri foram substituídas por indústrias sem patine, a Suprema foi trespassada e está fechada há anos, a Sul América – abatida pelo insuportável agravamento das rendas e por uma gestão deficiente – pertence agora ao fast food e a Londres morreu juntamente com os cinemas. Resta o mítico Vá-vá, à procura de investidores que lhe evitem o encerramento, e a Luanda, líder da resistência, que envelhece ao ritmo da sua clientela. É o charme dos anos 50 e 60 que se vai…
Parece que foi ontem, Sábado, 21DEZ16
 

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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