Alexandre Pais

Mário Lindolfo: partiu outro dos maiores

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Uma onda de emoção varreu uma certa política, a sala de imprensa do Parlamento Europeu e a classe jornalística, com o desaparecimento de Fernando de Sousa, de 65 anos, correspondente da SIC Notícias. Trabalhei com ele na RDP, nos idos de 1976, e associo-me aos elogios dirigidos à sua competência e verticalidade. Era um dos melhores.
Como filho do papel, sempre compreendi e sempre me chocou – em boa verdade, só até à aparição do fenómeno dos famosos e celebridades, que veio comprovar que nem tudo o que aparece na televisão é bom ou vale a pena – a vénia que se presta ao que surge no pequeno ecrã e a indiferença a que se votam os méritos de quem não nos entra, a toda a hora, pela casa dentro.
É que depois da morte de Fernando Sousa voltei a ser surpreendido com a quase anónima partida, aos 72 anos, de um dos maiores jornalistas com quem tive o privilégio de trabalhar: Mário Lindolfo (foto). Fomos companheiros no Portugal Hoje, no início da década de 80, e continuámos depois a encontrar-nos, regularmente, no Bairro Alto – ele já na direcção do jornal satírico O Fiel Inimigo, para matarmos um vício comum: o do snooker. Ainda estivemos juntos no projeto embrionário de um semanário ligado a temas de crime, polícias e tribunais, mas o Bang-Bang, assim se chamaria, não passou no teste seguinte, que era o de encontrar quem o pagasse.
As notícias da sua morte foram, genericamente, pobres e pouco dignas da dimensão profissional e humana do Mário. Valeu, no Expresso diário, a escrita limpa e precisa de Anabela Natário, para que se ficasse com uma ideia, ainda que pálida, do talento do homem que nos deixou.
Um grande cronista que um dia não conseguiu escrever
Prémio Gazeta Reportagem de Televisão, com Carlos Narciso, em 1985, Mário Lindolfo era um mestre na crónica. Em 1981, no Portugal Hoje, foi escalado – contra minha vontade, pois conhecia o seu espírito anticlerical – para acompanhar, em Fátima, o 13 de Maio. Tardou em aparecer e chamou-me, já perto do fecho da edição, ao café fronteiro à redacção, no Dafundo. E disse-me, desolado: “É pá, desculpa, não consigo escrever…” Era um monstro do jornalismo, incapaz de esconder o que sentia, e que optou por se remeter ao silêncio. O diretor do PH, João Gomes, era católico praticante e o Mário sabia os problemas que o seu texto causaria. Não era muito o seu género, mas por uma vez ficou-se.
Parece que foi ontem, Sábado,30OUT14

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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