O presidente do FC Porto recuperou em boa hora o seu sentido de humor. O País está deprimido e as anedotas de Pinto da Costa são um bom lenitivo para as desgraças do dia-a-dia.
E esteve na sua melhor forma, na última sexta-feira, em Caminha, “disparando” em várias direções para gáudio de uma plateia de indefectíveis que tudo aplaude.
O problema é que Pinto da Costa não diz só algumas verdades e umas graçolas, e entra pelo caminho onde é igualmente temível: o do insulto.
Foi o que aconteceu agora, ao acusar os jornais desportivos, mais propriamente o de um grande grupo editorial, de não dar notícias que possam comprometer os clubes de Lisboa. E adiantou até que essas notícias, se se referissem ao FC Porto, provocariam a intervenção do Ministério Público.
Ora, jornais desportivos em Portugal só há três. E propriedade de grandes grupos de comunicação só há dois, o Record e “O Jogo”. Como o líder dos dragões não estaria, obviamente, a dirigir qualquer crítica ao diário de Joaquim Oliveira, só podia estar a acusar este jornal.
A direção de Record desconhece qualquer facto, para mais suscetível de investigação do Ministério Público, que tenha sido escamoteado aos seus leitores. E se Pinto da Costa justifica a sua acusação com o celerado apelo à violência que antecedeu a final da Taça de Portugal, sabe afinal pouco e dá ainda mais tempo de antena a uma conduta miserável.
Mas admitimos que o presidente portista tenha conhecimento, e abundância de provas, de outros ilícitos, e aguardamos, por isso, que as apresente. E se forem assim tão graves que suscitem a atenção do Ministério Público, então pode estar certo que lhes daremos mesmo o maior destaque.
Record, que lidera a imprensa desportiva com o maior número de leitores, segundo o Bareme, e de vendas, de acordo com os dados da APCT, não tem relações institucionais com dois dos três “grandes”. E Pinto da Costa sabe rigorosamente porquê. Porque damos todas as notícias que chegam aos nossos jornalistas, sem cuidar de saber se agradam ou desagradam a alguém. Porque temos caráter e uma só cara. E porque não temos medo.
Editorial, publicado na edição impressa de Record de 24 agosto 2010