Alexandre Pais

Luís Santana (Cofina): "Não há bons negócios neste momento"

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20 de Outubro de 2011 às 00:55:35, por Elsa Pereira
Meios & Publicidade

Rolando Oliveira (Controlinveste), Pedro Norton (Impresa) e Luís Santana (Cofina)

A imprensa não está bem, é certo, e a saúde do mercado publicitário é débil. Não obstante, o jornalismo é um activo valioso e o seu futuro não está em causa, tal como o papel, que continua e continuará a constituir a principal âncora de receitas dos grupos de imprensa. Grosso modo, foram estas as principais ilações que se puderam retirar do debate subordinado ao tema A Imprensa Escrita em Portugal: Desafios e Oportunidades que ontem no âmbito do Dia da Imprensa de Língua Portuguesa, num encontro dinamizado pela Associação Portuguesa da Imprensa. Luís Santana, administrador da Cofina, Rolando Oliveira, vice-presidente da Controlinveste e Pedro Norton, vice-presidente do grupo Impresa, formaram o painel de intervenientes do debate, moderado por Carla Borges Ferreira, directora do M&P.

O trio de responsáveis manifestou concordância quanto às linhas estruturais que retratam o sector. Pedro Norton referiu-se à quebra do mercado publicitário enquanto “um factor conjuntural”. “A crise há-de passar, com mais ou menos dor”, disse. Passará, mas, por enquanto, reina. Lançada a questão relativa às consequências da entrada de mais um player televisivo com a privatização de um dos canais da RTP, e sobre uma possível candidatura Cofina/Controlinveste, Luís Santana foi peremptório: “Qualquer meio que apareça agora é mau”. “Não há bons negócios neste momento. Não há ambiente”, frisou o profissional. Rolando Oliveira considerou, por seu turno, ser “cedo para falar”, adiantando, porém, que “o mercado não está para simpatias”.

Por outro lado, o vice-presidente da Impresa trouxe à liça “três linhas de acção” quanto aos desafios que se impõem aos grupos de media para a “desmultiplicação das receitas”: “Pensar na imprensa como um conjunto de títulos, servir interesses específicos em formatos diferentes e fomentar sinergias operacionais”. E prosseguiu, afirmando que, “há que identificar o público-alvo e só depois pensar nos suportes. Temos de oferecer soluções de comunicação aos anunciantes e o futuro da imprensa passa pela sua integração em ecossistemas”, sublinhou o responsável, salientando ainda “a desastrosa transição feita para o digital” na medida em que foi baseada “na gratuitidade”. Por seu turno, Luís Santana disse acreditar que “o mercado do digital vai crescer mas muito lentamente”. Para o administrador da Cofina “a imprensa não precisa de ser reinventada”, mas antes “reconhecida”. “Há um problema de preconceito. Nem todos estão a perder leitores e a imprensa cumpre bem o seu alvo premium [target 25 – 54, classes A, B e C]”. Aliás, “houve, a nível mundial, um aumento de circulação de títulos na ordem dos 6 por cento”, ainda que este crescimento não seja imputável aos países desenvolvidos (ver página 8).

“Temos de apostar em conteúdos de qualidade, diferenciadores”, frisou Luís Santana, aludindo ao facto “de a imprensa fazer investigação como nenhum outro meio”, embora esse trabalho não raras vezes venha a ser canibalizado. “Faz-se e os outros divulgam”, comentou o responsável a esse propósito. “É preciso continuar a contar boas histórias, fazer jornalismo de proximidade”, apelou. Até porque, defendeu, os jornais impressos não podem “competir” com o online no que concerne ao acompanhamento da “actualidade”. Já no entender do vice-presidente da Controlinveste, “os desafios que se colocam à imprensa “não são novos”, diz, lembrando que “Portugal tem uma enorme taxa de penetração no digital”. No entanto, continuou, “a base da imprensa são os conteúdos, as marcas vivem de conteúdos, de notícias”. E apesar de “termos de encontrar novos modelos para gerar receitas ninguém irá tirar de vista que o jornalismo é a base e continuará a ser”.

Nesta senda, Luís Santana reforçou: “Precisamos de injecção de capital para manter o pressuposto do paradigma do papel. Temos de ser atractivos, de preservar o talento, de ser uma indústria fértil para os jovens” e “nunca se abriram tantas frentes como agora”, disse. Pedro Norton concorda que existe “uma subavaliação do valor da imprensa”, quando esta continua “a marcar o agenda setting”. “Se nós temos essa percepção é absurdo que os anunciantes não a tenham”, apontou o responsável. “A indústria deixou que se lhe colocasse o rótulo de velha e antiquada o que não é nada sexy para anunciar”, assinalou Pedro Norton, pelo que acaba, desta feita, por ter um “potencial pouco explorado”. Relativamente à cobrança de conteúdos no online, Luís Santana garantiu que “gostava muito de ter um modelo, mas dos primeiros testes resultaram experiências decepcionantes”. “O consumidor começa a ter alguma disponibilidade, mas receio que estejamos longe de encontrar esse modelo”, assinalou. A aposta, comentou em jeito de remate, tem de se centrar no “esforço para manter a qualificação dos conteúdos”. “Não imagino o mundo sem jornalismo”, concluiu Luís Santana.

Aposta na lusofonia vale a pena?

Numa jornada em que se discutiu o investimento da lusofonia como uma oportunidade de desenvolvimento económico e de crescimento para o sector dos media, bem como a importância da língua portuguesa, os três responsáveis consideraram muito difícil a penetração no mercado além das fronteiras portuguesas. “Não somos uma marca global”, referiu Rolando Oliveira. “Há pouco entrosamento e o mercado da Lusofonia ainda não é viável”, completou o vice-presidente da Controlinveste. “O mercado publicitário está concentrado no Brasil”. “Somos um pigmeu ao lado de grandes grupos”, afiançou, por seu turno, Luís Santana. “Competir com esses gigantes é muito complicado”.

Em contrapartida o secretário de Estado adjunto do ministro dos Assuntos Parlamentares, Feliciano Barreiras Duarte, que falou no fim do encontro, mencionou que a “afirmação da língua portuguesa enquanto elemento identitário comum é a nossa grande oportunidade”, cabendo aos empresários “tirar partido da lusofonia”. O governante, para lá de ter frisado que “em circunstância alguma a liberdade de informação pode ser refém do poder económico”, disse que o Executivo está “bem ciente do papel inestimável dos órgãos de comunicação social”. Prova disso, enunciou, foi a “manutenção da taxa do IVA nos 6 por cento”.

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